Folha de S. Paulo


No clássico contra o Palmeiras, deu para perceber coragem em Carille

O PRIMEIRO dérbi no ano de seu centenário ficará marcado pelo erro e pela arrogância autoritária do assoprador de apito e pelo gol de Jô no fim para dar a surpreendente vitória ao Corinthians com 10 contra 11 palmeirenses.

Mas o absurdo cometido pelo assoprador acabou por monopolizar os comentários pós-Dérbi e impediu que observasse uma característica promissora no jovem técnico alvinegro, Fábio Carille, 43.

Escalar Kazim no lugar de Jô depois que o centroavante caiu nas graças da Fiel foi fácil.

Apostar em Guilherme Arana também era esperado e não por acaso o Corinthians liberou Uendel com tanta facilidade.

Mas, ao perder Camacho, que parece ter ganho a posição, Carille optou pelo jovem Maycon e deixou o experiente Fellipe Bastos de fora, além de escolher o também garoto Léo Jabá em vez de Marlone.

Em começo de carreira, com um Corinthians e Palmeiras pela frente, seria de se apostar na formação mais experiente e segura. Mas não.

O treinador preferiu botar sangue jovem e formado na base corintiana em busca de compensar, com garra e entendimento do que o Dérbi significa, a inferioridade técnica em relação rival. Que, por sinal, ao contrário, deu a sensação de não saber que jogo estava em jogo e deu mole ao imaginar que com um a mais venceria no segundo tempo naturalmente, sem forçar.

Só mesmo Dudu disputou o clássico como era preciso, além de Vitor Hugo que, diferentemente de Gabriel, merecia ter sido expulso, porque cotovelada em adversários como deu em Pablo não é sinal de abnegação, mas de covardia.

Já Keno deve ter aprendido que a honestidade é qualidade de quem é esperto, porque sua festiva colaboração para o erro do assoprador acabou por sair pela culatra. Se apontasse Maycon como o autor da falta teria evitado a expulsão de Gabriel e talvez, 11 contra 11, embora o Corinthians estivesse melhor no primeiro tempo, o segundo reservasse mais espaço para o Palmeiras e menos gana alvinegra motivada pela injustiça da situação.

Os três pontos em disputa pelo Paulistinha nada significam, nem o resultado como projeção para o ano. Mas o clássico vale por si mesmo, é o de maior rivalidade em São Paulo, como mostrou o Datafolha.

Enfim, vivemos mais um Dérbi para fazer história, dos que dão pano para manga dias após terminar.

POLÊMICAS CENTENÁRIAS

O excepcional caderno especial desta Folha sobre o centenário do Dérbi teve o mérito de mostrar que o bom e velho jornalismo com criatividade está vivo.

Como é obrigatório, causou polêmicas ao escalar os melhores Corinthians e Palmeiras de todos os tempos e, principalmente, a seleção mista de ambos.

Com todo respeito que merecem São Marcos, Rincón e Dudu, Gylmar dos Santos Neves, bicampeão mundial pela seleção brasileira e pelo Santos, é o melhor goleiro brasileiro da história; e Dino Sani, que jogou pelos dois clubes, era mais jogador que os brilhantes meio-campistas escolhidos.

Só a juventude da maioria dos eleitores explica o tamanho da injustiça.

Daí também existir quem imagine serem os geniais Maradona e Messi melhores que Pelé.

Posso garantir que não são, porque, meninos, eu vi.

Veja mais no especial "100 anos do clássico".


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