Folha de S. Paulo


Atitude da dupla Atletiba pode iniciar a verdadeira emancipação dos clubes

Jason Silva/AGIF
Jogadores do Atlético-PR e do Coritiba aguardam decisão sobre o jogo na Arena da Baixada
Jogadores do Atlético-PR e do Coritiba aguardam decisão sobre o jogo na Arena da Baixada

O Atletiba que não aconteceu pode ser um marco na história do futebol profissional brasileiro desde que siga adiante, não deixe que interrompam seus efeitos e repercussão, não seja aquilo que Getúlio Vargas chamava de "guampada de boi manso".

Porque desde o momento em que o Atlético-PR e o Coritiba resolveram não jogar e sinalizaram para mais de 20 mil torcedores na Arena da Baixada que iriam se retirar de campo e que, portanto, não haveria jogo, o gesto extrapolou as fronteiras paranaenses.

É impressionante o apoio dado à atitude da dupla pelo país afora, prova da necessidade da ruptura, do fim dos arreglos imorais que desgraçam a sociedade brasileira e, por consequência óbvia, o nosso futebol.

Ora, como uma federação estadual, entidade meio que virou fim, que deveria estar a serviço de seus filiados e se tornou um cartório autoritário, incompetente e inútil, pode se levantar contra os interesses dos clubes, dos dois maiores, melhores e mais populares do Paraná?

Colabora para a solidariedade quase unânime a antipatia entre os mais politizados pela Rede Globo de televisão, este interessante fenômeno de liderança absoluta de audiência e rejeição da elite intelectual.

A Globo não quis pagar o que a dupla Atletiba acha que vale. Direito dela, sem dúvida.

A dupla resolveu botar seu jogo em seus canais na internet, outro direito indiscutível, além de pioneiro no país, embora em uso disseminado na Espanha e na Inglaterra.

A mentirosa argumentação do cartola Hélio Pereira Cury, que preside a federação desde 2007 e tem mandato até 2019, de que faltou credenciamento aos profissionais que transmitiriam o clássico não resistiu nem mesmo aos acontecimentos ainda no gramado da Arena, onde o quarto árbitro encarregado de auxiliar o andamento do jogo que não houve foi explícito: "O pessoal não pode transmitir porque não é a detentora do campeonato", afirmou Rafel Traci à beira do campo. "É isso que a gente recebeu de informação. Se continuarem eles (funcionários da transmissão) dentro do campo, nós não podemos ter essa partida", completou, segundo revela vídeo obtido com exclusividade pelo UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha, aqui transcrito literalmente.

Mais artificial que a grama da Arena da Baixada, Cury passa a estrelar a era da pós-verdade, da notícia falsa, que até atinge objetivos imediatos, mas não perdura, como o mundo testemunha com Donald Trump e o Brasil com as pesquisas que revelam os crescimentos do "Fora, Temer!" e do "Volta, Lula!".

Nada pode impedir a liberdade dos clubes, sua independência para organizar as competições que quiserem, como quiserem, onde quiserem e as negociar livremente, com quem pagar mais e melhor. Nada!

Só não aconteceu até hoje invariavelmente por covardia, também por desorganização e muitas vezes por interesses escusos.

As federações estaduais são incomparavelmente menores que os grandes clubes que abrigam, embora muitas vezes mais ricas do que estes.

São jabuticabas autênticas, porque, aí sim, exclusivamente nossas coisas -são coisas nossas, ocupadas por laranjas da CBF.

Que o exemplo Atletiba frutifique.


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