Folha de S. Paulo


Jogadores do PSG fizeram o Barcelona despencar na real

Francois Mori/AP
Dí Maria comemora seu gol marcado na vitória do Paris Saint-Germain sobre o Barcelona
Dí Maria comemora seu gol marcado na vitória do Paris Saint-Germain sobre o Barcelona

REMINISCÊNCIAS INFANTIS: era um sofrimento ver quaisquer dos jogadores bicampeões mundiais na Suécia e no Chile, nas Copas do Mundo de 1958 e 1962, serem derrotados.

Goleados então parecia uma ofensa que a vida não tinha o direito de fazer com Gylmar, com Djalma Santos, Bellini, Orlando, Zózimo, Mauro, Nilton Santos, Zito, Didi, Mané Garrincha, Vavá, Amarildo, Zagallo e, sobretudo, com o Rei Pelé.

Para uma criança entre 8 e 12 anos aquilo era uma demasia, por mais que só o goleiro Gylmar fosse de seu time, embora por pouco tempo porque logo se transferiu para o Santos, em 1961.

Detestava ver o olhar decepcionado dele quando tomava um gol, mesmo quando algum corintiano era o autor.

Já adulto, o sentimento se repetia com Gérson, Tostão, Rivellino.

Em resumo, aqueles homens, aqueles heróis, aqueles mitos, não podiam perder. Foram feitos para a vitória.

Crianças olham para jovens de 20 anos como se fossem gigantes e para rapazes de 32 como anciãos.

Jovens de 20 já veem aqueles um pouco mais velhos apenas como adultos, mas ainda assim inalcançáveis como Jairzinho, Carlos Alberto Torres.

Claro que o tempo passa e tudo muda.

Nunca vi, por exemplo, nem Romário, nem Ronaldo e nem Rivaldo com esses olhos.

Todos poderiam ser meus filhos. Sentia apenas dó quando os via derrotados, mas não era aquele sentimento de que "um homem como este não pode perder".

Tudo isso para falar do massacre de Paris, quando o PSG goleou o poderoso Barcelona por 4 a 0 e poderia ter sido por 6 ou 7.

Sim, o Paris Saint-Germain poderia ter feito com o time que tão bem representa o orgulho catalão o mesmo que a Alemanha fez com a seleção brasileira.

"Um jogo atípico", como bem definiu o perplexo Neymar, único jogador de linha a se salvar na catastrófica noite blaugrana na Cidade Luz.

Terrível ver Lionel Messi perdido, como se procurasse o pai em campo. Doído perceber a impotência de Luis Suárez.

Mas nada deu tanta pena como ver o gigante Andrés Iniesta desamparado.

Vindo de lesão, talvez ainda sem o ritmo ideal de jogo, aos 32 anos o comandante do Barça afundou miseravelmente com seus companheiros.

Sim, Andrés também poderia perfeitamente ser meu filho.

E olhei para ele com os mesmo olhos que olhava para Zito, para Didi, Gérson e Tostão: este cara não pode ser humilhado.

Mas era noite de aniversário de dois capetas, um argentino, outro uruguaio.

Angel Di María, o argentino, completou 29 anos e deu ao futebol dois lindos presentes, numa cobrança de falta para abrir o placar e num tirambaço de fora da área para fazer 3 a 0.

Cavani, o uruguaio, fez 30 anos e o quarto gol com a ira que sugou do companheiro de Celeste, Suárez.

Jogos assim têm mil razões para acontecerem.

A atuação perfeita de Verrarti, Rabiot e Matuidi no meio de campo francês, criando e sem permitir que Busquets e Iniesta jogassem; a surpreendente apresentação do jovem franco-congolês Kimpembe no lugar de Thiago Silva; o talento também do alemão Draxler, autor do segundo gol; o gol que André Gomes perdeu e que Daniel Alves jamais perderia, capaz de mudar o rumo do embate.

Mas nada foi mais emblemático que o olhar perdido de Iniesta.


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