Folha de S. Paulo


Futebol é administrado sem cuidado no Brasil

No primeiro dia deste mês de fevereiro publiquei uma nota em meu blog no UOL, do Grupo Folha, cujo título é "Corinthians x Palmeiras e o doping financeiro".

Não quis me limitar ao patrocínio com valores muito acima do mercado que hoje distorce a concorrência a favor do Palmeiras para não ter que ouvir a burra ladainha de ser coisa de corintiano.

Lembrei que o Corinthians já foi fartamente beneficiado por métodos semelhantes, seja quando ganhou o Campeonato Brasileiro de 2005 com apoio do dinheiro sujo da máfia russa disfarçado na sigla MSI, seja mais recentemente, com apoio do governo federal petista.

Lembrei o que aconteceu depois da saída de ambos os agentes: rebaixamento para Série B em 2007 e a crise ora enfrentada pelo Alvinegro.

Não adiantou.

O alerta para os palmeirenses soou como coisa de corintiano, preço que se paga quando não se esconde as preferências de infância, por mais que não contaminem a atividade profissional.

É óbvio que há diferenças e que o atual Palmeiras depende menos da Crefisa/FAM do que o Corinthians dependia de seus financiadores/respaldadores.

Poderia ter citado o Fluminense/Unimed, mas limitei-me aos dois gigantes paulistas.

Volto ao tema.

Diz a máxima popular que quando a esmola é demais o santo desconfia.

O Palmeiras já se beneficiou e sofreu por patrocínios semelhantes quando em cogestão com a Parmalat.

Depois que a Operação Mãos Limpas, na Itália, revelou o gigantesco esquema de lavagem de dinheiro da empresa de laticínios não houve o que impedisse também sua queda para Série B.

Sim, repita-se, o Alviverde de então, anos 1990, era muito mais frágil que o atual com seu belo estádio e o programa bem-sucedido de sócio-torcedor.

Igual ao Fluminense, no entanto, seus patrocinadores têm óbvios interesses políticos no clube.

O do Flu tentou e não conseguiu se eleger presidente, talvez por já não mais patrocinar o futebol tricolor que com seu apoio ganhou dois Campeonatos Brasileiros.

Os do Palmeiras acabam de se eleger conselheiros, em campanha jamais vista num clube brasileiro e sem direito a serem candidatos.

A Unimed/Rio mergulhou em grave crise depois do patrocínio sem limites ao Flu.

O dono da Crefisa foi objeto de demolidora reportagem de Márcio Kroen em março passado e está às voltas com a Justiça não só por suas transações que envolvem outras de suas empresas, mas até por inquéritos sobre contrabando de aviões e invasão de domicílio.

José Roberto Lamacchia já foi declarado inabilitado permanente para atuar no mercado financeiro, sentença modificada para inabilitação temporária pelo STJ, em 1991.

Admitamos que venha a ser absolvido em todas as ações. Mesmo assim fica claro como são poucos os cuidados de nosso futebol que não cuida dos dentes de cavalo dado.

A festa de hoje tem sido o velório do amanhã.

Eike Batista está aí, ou melhor, em Bangu, para provar, mecenas da Olimpíada.

É antipático alertar, parece mesmo coisa de corintiano.

Ou melhor, é.

De um corintiano que não podia ir aos jogos de seu time porque acusado pela Fiel de ser anti, contra Tévez, Mascherano, Nilmar, tantos...


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