Folha de S. Paulo


Jesus começa carreira mais protegido que Neymar e desperta mais simpatia

João Saldanha, autor de grandes sacadas, gostava de dizer que "não quero jogador para casar com minha filha; quero só que resolva dentro de campo".

Não chegava a ser um respaldo ao "rouba mas faz", mas estava mais próximo disso do que a teoria do "primeiro o homem, depois o talento".

Gabriel Jesus se enquadra perfeitamente nas ideias virtuosas: resolve em campo e é talentoso, o que faz dele ótimo partido.

Neymar nem tanto.

Trata-se de um craque esplendoroso, já consagrado, encantador com a bola nos pés, o céu como limite, embora marcado por confusões extracampo capazes de antipatizá-lo até com a torcida santista, ou principalmente com ela, dadas as circunstâncias nebulosas de sua saída do clube, fora o fato, imperdoável, de ter assinado com o Barcelona poucos dias antes de enfrentá-lo na decisão do Mundial de Clubes da Fifa.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Atrás de Neymar, Gabriel Jesus comemora gol da Seleção Olímpica
Atrás de Neymar, Gabriel Jesus comemora gol da Seleção Olímpica

Gabriel Jesus é ainda uma promessa apesar do começo espetacular como centroavante do Palmeiras, da seleção e do Manchester City.

Só que deixou o clube alviverde do modo mais correto possível, defendeu a camisa palmeirense como se já não estivesse contratado pelo time inglês e desperta simpatia sem fim nas entrevistas que dá, aparentemente determinado a priorizar a carreira, sem se contaminar com as tentações a que se submeteram os popstars do futebol.

Neymar, diga-se, é um fenômeno também como garoto-propaganda, o que demonstra que continua acima dos julgamentos morais, acusações de sonegação etc.

Falta-lhe, contudo, a assessoria que Gabriel Jesus parece ter, como se a ganância desmedida esteja acima dos gols que é capaz de fazer.

Nada que impeça, hoje, de, no par ou ímpar, o ex-santista ser escolhido antes do ex-palmeirense.

Gabriel Jesus tem ainda um longo caminho pela frente e terá mais dificuldades para brilhar na Premier League que Neymar, astro consagrado, na Espanha.

Dia desses, no "Linha de Passe" da ESPN Brasil, foi posta a questão: entre ver um jogo de Gabriel ou de Neymar, qual você escolhe?

A resposta dos fãs de esporte consagrou o menino Jesus.

Não foi, registre-se, a resposta do colunista, que prefere ver o Barcelona para ver Neymar, Messi, Luis Suárez e este excepcional Iniesta.

A escolha pelo garoto do Manchester City tem, provavelmente, o sabor da novidade, mas deixa clara a simpatia pelo palmeirense, mesmo que seu ex-clube desperte mais o sentimento de rivalidade que o Santos. Não é pouca coisa.

Que fique claro passar longe daqui qualquer intenção de despertar rivalidade entre os dois craques, mesmo porque o futebol brasileiro precisa de ambos afinados e ainda porque Gabriel Jesus tem demonstrado a mesma inteligência de Neymar: o primeiro não disputa o protagonismo com o segundo como o segundo não bate de frente com Messi.

Será muito bom, com tudo isso, que Neymar se mire no exemplo de Gabriel Jesus e deixe de lado certas delícias da vida para se concentrar apenas no jogo.

Enquanto isso, nosso outro Gabriel, o promissor Gabigol, amarga a escolha de ter saído prematuramente do Brasil.

E olhe que ele era o preferido de Neymar.

"Viver é muito perigoso", escreveu Guimarães Rosa. Como é!


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