Folha de S. Paulo


Como o futebol brasileiro teima em não se modernizar

PAULISTINHA JÁ em andamento, assim como todos os principais campeonatos estaduais brasileiros, coisa só nossa como se convencionou dizer da jaboticaba.

O Campeonato Carioca deixou de ser carioca há décadas, por ser fluminense, e deixou também de ter o charme que sempre teve, hoje repleto de jogos em horários impossíveis de serem acompanhados por quem trabalha e de outros que não comovem o torcedor.

Gaúchos e mineiros têm campeonatos de apenas dois times, embora seja frequente que um intruso estrague as finais.

E o Paulistinha é o Paulistinha, assim chamado aqui apenas por rejeição ao modo como é chamado pela FPF, aceito por inúmeros veículos e jornalistas. Fosse chamado pelo seu nome, Campeonato Paulista, e assim seria tratado aqui. Aliás, é sintomático.

Quando nosso estadual valia mesmo, não precisava do aumentativo. Passou a ser "ão" exatamente quando virou "inha".

Ocorre que os estaduais viraram uma faca de dois legumes, como dizia o inesquecível presidente corintiano Vicente Matheus.

Não agrega valor aos campeões, mas causa crises nos grandes que não os conquistem.

Até mesmo quando um pequeno ganha o título a taça não o faz crescer, como vimos com o Ituano em 2014 ou com o América em Minas no ano passado.

Mais: de 2010 para cá, o Santos tem a espantosa marca de cinco títulos em sete disputados, façanha que não acalma o torcedor peixeiro nem seus jogadores, unânimes em dizer que o clube precisa de conquistas importantes.

Então, você tem o direito de perguntar: se é assim, porque os estaduais sobrevivem?

A resposta é simples: o voto dos presidentes das federações estaduais historicamente mantém o mandonismo da CBF e os votos dos clubes pequenos asseguram a sobrevivência das federações, ou cartórios, ou capitânias hereditárias.

Há, ainda, a tradição para justificar o imobilismo e, no caso de São Paulo, um dinheiro fácil que acomoda os grandes incapazes de saltar em direção ao futuro.

Outra pergunta recorrente é simplória: se o Paulistinha é tão insignificante, por que falar dele, cobri-lo?

A resposta também é simples: porque é o que temos, e uma das regras básicas do jornalismo é a de não brigar com os fatos, por mais que se possa lutar para melhorá-los.

Tudo isso para dizer que o Paulistinha começou anteontem com o Santos, seguiu ontem com o Corinthians e continua hoje com jogos do São Paulo e do Palmeiras.

Entre os grandes, tem mais importância para o Tricolor, há 11 anos sem ser campeão, perto de repetir a estiagem entre 1957 e 1970.

Interromper a secura será o melhor cartão de apresentação possível para Rogério Ceni, embora seja um despautério cobrá-lo tão cedo.

Sim, Fábio Carille vive situação semelhante, já que o Corinthians também está fora da Libertadores, embora tenha sido campeão estadual em 2013.

Não por acaso, o campeão e vice brasileiros, Palmeiras e Santos, são os dois melhores times e favoritos.

O alviverde com elenco para formar dois bons times e o Santos com a vantagem de ser até mais forte que era em 2016, além de especialista em ganhar estaduais.

Então, vamos ao que temos!


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