Folha de S. Paulo


Os criadores e as criaturas

Diego Iwata/Folhapress
José Roberto Lamacchia, proprietáro da Crefisa, Paulo Nobre, presidente do Palmeiras, e Leila Pereira, presidente da Crefisa
Paulo Nobre (centro), presidente do Palmeiras, apresenta camisa do clube com patrocinador, em 2015

Fleury e Quércia romperam relações. Pitta e Maluf também. Pires e Matheus idem, no Corinthians.

Luiz Antônio Fleury sucedeu Orestes Quércia no governo de São Paulo em 1991 e ambos romperam ao fim do governo da criatura criticado pelo criador.

Celso Pitta fez o mesmo com Paulo Maluf depois que o sucedeu na prefeitura paulistana.

No Corinthians, antes, em 1981, Waldemar Pires não aceitou a ingerência do antecessor de quem fora vice e mandou o então ex-presidente Vicente Matheus às favas.

Apenas três exemplos de criaturas e criadores que se davam às mil maravilhas. Isso até que as criaturas chegaram ao poder e quiseram exercê-lo ao seu modo e não como queriam os criadores.

A lista é interminável. Exceções são os casos nos quais as relações permaneceram intactas, pelo menos publicamente, como entre Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Tudo isso para tratar da sucessão no clube campeão do Brasileiro de 2016.

Maurício Galiotte foi eleito com apoio do antecessor Paulo Nobre e como candidato único.

Nem bem tomou posse e está instalada a primeira crise no alviverde, causada por Nobre que guardou um segredo por nove meses até impugnar, como seu último ato, a candidatura de Leila Pereira ao conselho do clube.

Leila Pereira, dona da Crefisa, que patrocina a camisa alviverde e a quem Nobre chama de "Linda Mulher", tem planos de vir a ser presidenta palmeirense e, como Nobre, tem dinheiro para tanto.

Sua empresa e do milionário marido paga cerca de R$ 80 milhões por ano de patrocínio e ela é apoiada não só pela maior torcida uniformizada da agremiação como pelo eterno cardeal Mustafá Contursi, presidente entre 1993 e 2005, sob cuja gestão o Palmeiras foi ao céu em 1999, ao ganhar a Libertadores, e ao inferno do rebaixamento em 2002.

Contursi alega, e não prova, que deu a Leila Pereira um título de sócia em 1996, o que a habilitaria a votar e ser votada no clube, e que a anotação da concessão se perdeu na secretaria.

Em fevereiro último, mandou uma carta na qual atesta a doação, está sob suspeita de falsidade ideológica e recebeu perplexo a notícia da impugnação da aliada, apesar de sua carta ter sido avalizada pelo diretor financeiro José Eduardo Luz Caliari, assinatura negada numa primeira conversa com a coluna e reticentemente confirmada em segunda entrevista.

Tudo de que Galiotte não precisava em seus primeiros dias de poder, metido numa saia justa entre seu antecessor, a patrocinadora com quem se dá bem e de quem precisa, e o velho cartola Contursi, detentor de tamanha influência a ponto de Caliari assinar a matrícula de Pereira em fevereiro e virar conselheiro vitalício em março.

Rebu armado, Nobre se limita a dizer que não se pronunciará para não tumultuar a vida do Palmeiras, embora tenha sido o estopim da confusão.

Em tese, se Pereira votou em Galiotte sem ter o direito não só a eleição pode ser anulada como permite a suspeita de haver outros eleitores na mesma situação dela.

Resumo da ópera?

Precisar não precisava e tomara que não seja o prenúncio de tempos turbulentos num Palmeiras que de pacificado que estava pode virar uma fogueira de vaidades.


Endereço da página: