Folha de S. Paulo


Nada como ver a torcida cantando feliz no estádio porque a seleção jogou bem

Já escrevi aqui sobre o medo de virar um jornalista boliviano apaixonado por futebol que nunca pode ver de perto um grande acontecimento do ludopédio porque este jamais acontecerá em La Paz ou em Santa Cruz de la Sierra.

Depois do 7 a 1, dos escândalos teixeirísticos, marinistas e do Marco Polo que não viaja, o receio cresceu, com nossos times abaixo da crítica, incapazes de serem protagonistas até na Libertadores, estádios vazios e arenas elitizadas e mal pagas.

Mas eis que hoje o sentimento se inverteu.

Sinto como se fosse um periodista espanhol, ou alemão, quem sabe inglês.

A começar que, em meio à disputa das eliminatórias da Copa do Mundo na Rússia, não sou obrigado a falar da rodada deste domingo do campeonato nacional.

Simplesmente porque não há rodada neste domingo do campeonato nacional, descoberta do mundo civilizado que demorou décadas para chegar por aqui. Mas chegou! Aleluia! Quando joga a seleção, não tem jogo de clube.

Então, embora já faça três dias que a seleção jogou, ainda dá para falar dela, do que fez em Belo Horizonte e do que poderá fazer, na madrugada da quarta-feira (16) em Lima, no Peru.

O Mineirão cantou que o campeão voltou depois de ver Neymar e companhia fazerem 3 a 0 na Argentina de Lionel Messi, imobilizado por Tite como se o técnico tivesse virado um hipnotizador.

A mesma torcida, mais de 53 mil pessoas, que cometera a profunda falta de educação de vaiar o hino argentino (quando é que vamos parar com essa história de tocar hinos em jogos de futebol, se uma torcida como a do Palmeiras acompanha o Hino Nacional cantando "vai Palmeiras, vai Palmeiras, vai Palmeiras"?), saudou a volta do campeão e fez coro para Tite.

Porque teve motivos, gostou do que viu, mais que uma simples vitória, nada menos que 3 a 0 sobre os vice-campeões mundiais, com direito a olé e, com um pouco mais de sorte, a pelo menos mais dois gols.

Nada que impeça, tenhamos os pés no chão, uma decepção depois de amanhã, quando o Peru jogará o jogo da sua vida para ainda sonhar com uma vaga na Copa.

Manter a concentração, o foco como se diz hoje em dia, depois de uma vitória no clássico de maior rivalidade entre seleções do primeiro mundo do futebol como Argentina x Brasil, não é fácil.

Evitar o relaxamento talvez seja o desafio principal de Tite, mas o que importa mesmo é que o palco do 7 a 1 festejou, como desde a vitória na final da Copa das Confederações de 2013, no Maracanã, também por 3 a 0, na Espanha campeã mundial, não se festejava por aqui.

Naquela tarde, também os cariocas entoaram que o campeão voltou, ilusão coletiva que custou caro um ano depois, porque, além do torcedor, que pode acreditar até em duendes, também a CBF acreditou, assim como nós, jornalistas.

Deu no que deu.

Tite, felizmente, parece imune a entusiasmos do gênero.

O que não nos impede de comemorar uma vitória que devolve a alegria de ver a seleção jogar, algo que nenhum de nossos times, no momento, proporciona.

E pensar que estavam todos aí, que, exceção feita a Gabriel Jesus, os jogadores eram os mesmos. Nada como ver o triunfo do prazer.


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