Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, disse o filósofo popular.
Apenas de venda nos olhos alguém negaria que quem esteve na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos brasileiros gostou do que viu.
A questão é: a aprovação basta para dizer que os dois megaeventos foram bem-sucedidos?
No Patropi bastou.
A imprensa estrangeira aprovou, os jogos da Copa foram de bom nível técnico, os estádios estavam aparentemente em ordem, as festas de abertura e encerramento das duas Olimpíadas foram magníficas, comoventes, e quem as viu, mesmo a trabalho, não pôde conter as lágrimas.
De quebra, esqueça o 7 a 1 no Mineirão, por favor, porque, dois anos depois da catástrofe, no Maracanã e no Maracanãzinho, vieram as medalhas de ouro inéditas no futebol masculino e surpreendentes no vôlei dos homens, que proporcionaram o clima emocional perfeito para a festa final, por mais que chovesse, por mais que ventasse no Rio em clima de euforia no bem sacado, e alegremente apinhado, Boulervard Olímpico.
Para não falar de Usain Bolt e de Michael Phelps, sinônimos de atletismo e de natação, pontos altos da superação humana, tudo o que quem gosta de esportes quer ver pelo menos uma vez na vida.
Então, paremos por aqui?
Ou, tão a gosto dos jornalistas chatos, vamos procurar pelo em ovo?
Não, não se trata disso.
É secundário se o estádio de abertura da Copa do Mundo não está pronto até hoje.
Ninguém que esteve lá para o jogo inaugural sequer notou e é problema do Corinthians, da Odebrecht e... da Lava Jato.
Mas e os elefantes brancos de Cuiabá, Brasília, Natal e Manaus?
E o Maracanã que virou um problemaço?
O Pacaembu, que corre o risco de virar sucata?
As obras não entregues nas 12 sedes da Copa?
O não saber o que fazer das instalações olímpicas?
O desamparo que volta a se abater sobre os esportes olímpicos?
O que dizer das dívidas não pagas a fornecedores pelo Rio-16?
Ou sobre o calote a nada menos de 140 mil pessoas como revelou esta Folha em reportagem de Paulo Roberto Conde?
A repetição do "devo não nego, pago quando puder" repete-se à exaustão, mas tem empresas penando pelos atrasos milionários.
É claro que não sairá uma linha na imprensa estrangeira sobre os cadáveres que ficaram nos armários da Fifa, do COI, da CBF e do COB, além dos que jazem nos respectivos comitês organizadores.
Não é problema dela, não é mesmo?
É nosso, só nosso, mas, aparentemente, nada que obscureça o brilho do poder de realização do bravo povo brasileiro, ludibriado por autoridades e cartolas mais rápidos para enriquecer ilicitamente que o raio ou mais destrutivos que o vendaval que assolou a Cidade Maravilhosa na cerimônia de encerramento.
Nem se fale dos problemas de segurança que recrudesceram gloriosos no Rio, até porque o falsário nadador Ryan Lochte fez um belo favor para a polícia carioca.
Um dia todos diremos: a Copa do Mundo resultou em desperdício megalômano e os Jogos Olímpicos nem sequer permitiram ao prefeito carioca fazer seu sucessor -também porque bater em mulher não é esporte olímpico, é crime e covardia.
Quando? Chi lo sa?