Folha de S. Paulo


Ver Pacaembu rubro-negro de novo reconcilia com futebol e dá esperança

Torcida única é uma besteira que passou pela mal assessorada cabeça do então secretário da Segurança de São Paulo e ficou por aqui mesmo depois, ou talvez por isso, de ele ter virado ministro da Justiça do impopular governo Temer.

Alexandre de Moraes, que aspira ao governo paulista para desespero do deputado Fernando Capez, deixou como legado tal barbaridade e viu anteontem em Itaquera que bastam os violentos de sempre para tumultuar um clássico estadual, sem torcida rival.

Talvez se passe agora, com abrangência nacional, para a solução que habita a cabeça mais brilhante do ministério, qual seja, a do clássico sem torcida.

Daniel Vorley/AGIF/Folhapress/Folhapress
Diego comemora gol na partida entre Flamengo e Figueirense, no Pacaembu
Diego comemora gol na partida entre Flamengo e Figueirense, no Pacaembu

Sorte que a paixão pelo futebol supera tudo a tal ponto que até um jogo com torcida única, como o de ontem, no Pacaembu, sensibiliza e emociona.

Olhar para o Pacaembu como se fosse um estádio carioca dos anos 1940 não teve preço.

Que grande torcida paulista faria o mesmo no Maracanã contra um time de outro Estado?

Não vale lembrar a invasão corintiana de 1976 porque ali tratou-se de uma semifinal de Campeonato Brasileiro, contra um grande carioca como o Fluminense e por provocação do então presidente tricolor, Francisco Horta.

Condições que levaram 70 mil fiéis ao Maracanã, deixaram Nelson Rodrigues boquiaberto e inspiraram Ziraldo a fazer uma charge histórica na primeira página do "Jornal do Brasil", o mais relevante do país à época, com uma criancinha, num cadeirão, que gritava: "Mãenhê!!! Caiu um corintiano na minha sopa!!!".

Circunstâncias que dificilmente se repetirão.

Fato é que 30 mil rubro-negros tornaram mais bela a quente e ensolarada manhã paulistana e deram show de alegria nas arquibancadas, aliás diretamente proporcional ao espetáculo proporcionado pelo Flamengo, melhor time deste momento no Brasileirão, dentro de campo.

A perseguição rubro-negra ao Palmeiras segue viva, embora as próximas rodadas reservem adversários mais temíveis para os cariocas do que para os paulistas.

Como mandante, o Flamengo terá o Cruzeiro e o Santa Cruz, e como visitante o São Paulo e o Fluminense, ao passo que o Palmeiras receberá o Coritiba e o Cruzeiro e enfrentará fora de casa os virtualmente rebaixados Santa Cruz e América.

É claro que jogo fácil não há e que o Flamengo já dá mostras de jogar com consistência aliada à surpreendente beleza, como se viu contra o Figueirense na vitória por 2 a 0, apesar de o time catarinense ser fraco e estar desfalcado.

Quem viu este Flamengo de Willian Arão e Diego e o comparou àquele do Fla-Flu no mesmo Pacaembu de março passado, há de ter ficado mui agradavelmente surpreso.

Assim é.

Horta adora futebol e provocou os corintianos para ocuparem a casa dele.

Já os corintianos Moraes e Capez, que atribui a fogo amigo tucano seu envolvimento no escândalo da merenda, preferem estádios vazios, a paz dos cemitérios.

Nada mais adequado aos insossos governos de Michel Temer, são-paulino não praticante, e do santista Geraldo Alckmin.

Ainda bem que, de repente, os rubro-negros cariocas trazem alegria às manhãs da Pauliceia.

Que voltem sempre.


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