Folha de S. Paulo


O que se viu na seleção brasileira foi o Tite de 2015

EMPATAR EM Quito já estaria de bom tamanho.

Ganhar por 1 a 0 seria admirável, pois o jogo na altitude, contra um time invicto em casa e quatro pontos à frente da seleção brasileira era daqueles que o importante mesmo seriam os três pontos, pensamento que virou uma praga nestes tempos pragmáticos em que o importante é o resultado.

A seleção fez mais. Muito mais.

Ganhou de 3 a 0 e fez um segundo tempo tão convincente que alimentou a esperança de que mais rapidamente do que é sensato projetar, o time do técnico Tite pode vencer e agradar.

Dois treinos, muita conversa e 45 sofríveis minutos para valer foram suficientes para, no intervalo, a equipe voltar certa de que o triunfo era possível e de que a seleção equatoriana estava longe de ser um bicho de sete cabeças.

Não deu outra.

Mesmo com a pontaria descalibrada até fazer 1 a 0, a seleção brasileira se impôs, obrigou o rival a gostar do empate e o castigou sem dó depois que ficou com um jogador a mais na metade do segundo tempo.

O normal seria esperar o time do Tite de 2012, tratando de segurar a vantagem mínima, repita-se, redentora pelas circunstâncias.

O que se viu foi, agradabilíssima surpresa, o Tite de 2015.

Não pense a rara leitora e o raro leitor encontrar aqui o ufanismo de quem acha que todos os problemas estão resolvidos. Ou imagine que o campeão tenha voltado, como provavelmente o torcedor cantará em Manaus caso a Colômbia também venha a ser subjugada depois de amanhã. Nada disso.

Entenda apenas como o justo registro do óbvio, tão óbvio a ponto de a CBF ter perdido dois anos para ver.

Tite não inventou a bola nem é mágico, embora seja candidato à santificação neste país diabólico. Apesar de seu linguajar ainda rebuscado, Tite é incapaz de uma mesóclise.

Apenas está atualizado e não estressa seus comandados, além de, em regra, conquistar a confiança deles.

Diferentemente do antecessor, não manda chegar junto, não acha que futebol e guerra sejam a mesma coisa, e até manda seus comandados se divertirem.

Como fez com o time do Grêmio, na escada do vestiário do Morumbi, antes da decisão do título da Copa do Brasil, em 2001, contra o Corinthians, vitória gaúcha por 3 a 1, depois de um empate por dois gols no jogo de ida, no Olímpico –resultado que permitia antever o título para o Alvinegro, diante de 80 mil torcedores.

Trabalhar com prazer é meio caminho andado para ser feliz.

HRUBESCH TAMBÉM

Horst Hrubesch foi o técnico da seleção olímpica alemã que disputou a final no Maracanã.

Quem esperava vê-lo derrotado na entrevista coletiva após os pênaltis que valeram o ouro para quatro titulares de Tite se enganou.

Ele não só estava orgulhoso da prata como contou o que disse aos seus jogadores antes da final: "Vocês não têm por que ficar nervosos com o estádio lotado.

Ao contrário: lembrem-se que vão jogar no Maracanã e que 80 mil torcedores estão aqui para vê-los. Divirtam-se e mostrem que eles não perderam tempo nem dinheiro ao virem ao jogo. Depois de conviver com a Vila Olímpica, o que mais vocês podem querer?".

Como diria o professor Pasquale, é isso.


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