Folha de S. Paulo


Tite estreia pela seleção sem margem para errar

Dolores Ochoa - 29.ago.2016/Associated Press
Brazil's coach Tite, center, gives instructions during a training session of the Brazil national team, in Quito, Ecuador, Monday, Aug. 29, 2016. Brazil will face Ecuador for a 2018 World Cup Russia qualifier soccer match in Quito on September first. (AP Photo/Dolores Ochoa) ORG XMIT: DOR101
Tite orienta jogadores durante treino em Quito, no Equador

A altitude de 2.850 metros de Quito receberá hoje mais um jogo das eliminatórias da Copa do Mundo na Rússia para o vice-líder Equador. Mais um jogo, apenas.

Para a seleção brasileira, não.

Em sexto lugar, herança de Dunga e Gilmar Rinaldi, fora, portanto, da zona de classificação para 2018, o time agora dirigido por Tite não pode perder.

Não que a derrota determine, necessariamente, a eliminação, pela primeira vez, do time nacional numa Copa do Mundo. Apenas a tornará um perigo real.

Sem tempo para treinar, em condições climaticamente inóspitas, a Tite restou conversar com seus jogadores para que façam um jogo seguro em busca de, ao menos, empatar na capital equatoriana.

Se a CBF errou ao tirar de Mano Menezes o comando da seleção quando começava a ter um rosto para entregá-la à dupla Felipão/Parreira, tinha à época a justificativa de que o primeiro havia conduzido ao penta e o segundo, ao tetracampeonato.

Ao trocá-la por Dunga/Rinaldi, cometeu o erro dificilmente sanável de perder o precioso tempo para organizar o time das eliminatórias.

Dois anos jogados no lixo que culminaram com a entrega oportunista do time ao técnico quase unanimemente apoiado pela torcida já em 2014, depois do 7 a 1.

Não significa dizer que Neymar e companhia estejam condenados a, no máximo, empatar hoje, como se a vitória fosse impossível, porque não é.

O futebol comporta tudo, até a vitória improvável dos visitantes sobre anfitriões entrosados e com o apoio do 12º, 13º e 14º jogadores, a altitude e a torcida.

Além do mais, quem sabe se o excesso de confiança, uma certa soberba equatoriana por não respeitar mais a seleção brasileira como antigamente, permita a vitória improvável e redentora?

Qualquer que seja o time escalado por Tite, por mais que tenha causado estranheza a convocação de Paulinho, parece claro que veremos uma equipe cautelosa, fechada, humilde diante do favoritismo do adversário.

São inegáveis a força e o talento do elenco brasileiro, capazes de surpreender quaisquer seleções do mundo, recheado por jovens embalados pelo ouro olímpico, rara alegria proporcionada ao torcedor cansado de apanhar também nos embates de seus clubes nos torneios internacionais, que o digam as últimas três Libertadores.

Onze bons jogadores como Alisson; Daniel Alves, Miranda, Gil e Marcelo; Casemiro; Renato Augusto, Paulinho, Willian e Neymar; Gabriel Jesus, se for esse o time, embora Filipe Luís, pelo poder de marcação, possa ser o titular no lugar de Marcelo, não formam, por decreto, um bom time do dia para a noite.

O pior é que, depois do Equador, virá a Colômbia, pais do atual campeão do torneio continental, outra equipe sem motivos para temer o Brasil.

Virá em Manaus, nova escolha inexplicável da CBF, certamente a cidade que os colombianos escolheriam, seja pela proximidade —Bogotá é mil quilômetros mais perto da cidade amazonense que o Rio...—, seja pelas características do clima.

Em resumo, estamos diante daquela clássica situação em que tudo está teoricamente tão errado que, por ser futebol, pode dar certo.

Se der, Tite começará sua campanha de canonização.


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