Folha de S. Paulo


Chegamos ao ponto que o Iraque tem uma seleção forte e pode dar trabalho

Não existem mais bobos no futebol a tal ponto que é bom respeitar o Iraque e quem diz isso, além de jornalistas respeitáveis, é o treinador do Brasil, Rogério Micale, que enfrentará os iraquianos nesta noite, quase de madrugada, às 22h, mais uma vez em Brasília, no gramado lamentável do Mané Garrincha, o estádio em que o acabamento revela com transparência o tamanho do superfaturamento.

É verdade que o Iraque mereceu vencer a Dinamarca, que, a exemplo do Brasil, esqueceu seus melhores tempos, em 1992, de "Dinamáquina", quando sagrou-se campeã da Europa.

Mas é verdade também que os dinamarqueses estão dando tanta pelota para a Olimpíada que chegaram ao Brasil com apenas 13 jogadores e só dois dias antes da estreia o técnico recebeu os demais cinco jogadores para completar os 18 que o regulamento permite.

Micale tem razão: o Iraque mostrou disciplina tática, muita abnegação e infiltrações principalmente pelo lado esquerdo do ataque que quase permitiram vencer o dinamarqueses.

Então, a conclusão passa a ser a de sempre: não adianta ter Neymar, Gabriel Jesus, Marquinhos e Renato Augusto, milionários do futebol, porque o preparo físico, a consistência tática e algum talento equilibram qualquer jogo, ainda mais se o respeito que a amarelinha impunha tiver sido enterrado no gramado do Mineirão pelo time alemão.

A verdade é esta: nem os bafana bafana, os meninos em zulu, da África do Sul, nem os garotos do Iraque, e, mui provavelmente, os jovens louros da Dinamarca têm receio de enfrentar os nossos, mesmo que capitaneados por Neymar, ainda em busca de ritmo depois de curtir as férias, nas quais, diga-se, trabalhou com seu preparador físico pessoal.

Agora, por mais decepcionante que tenha sido a estreia sem gols contra os africanos, não dá para negar que os brasileiros seguem como favoritos, porque, oras bolas!, se não forem considerados como tais, melhor será fechar o botequim e nos dedicarmos ao golfe, onde jamais fomos de nada e poderemos surpreender o mundo ao mostrar que não há mais bobos também no golfe, ou à caça submarina, onde já tivemos, nos anos 1960, um bicampeão mundial, chamado Bruno Hermanny.

O que assustou mais no 0 a 0 contra dez adversários por mais de meia hora foi a intranquilidade no chute final, tantas foram as oportunidades, daquelas de fazer o nome do goleiro, descontada a bola na trave por soberba de Gabriel Jesus.

Impressionou também o desempenho de Renato Augusto, lento, impreciso nos passes, parecia ora avô dos companheiros, ora um menino ansioso, perdido em campo.

Ah, o Iraque...


Endereço da página:

Links no texto: