Folha de S. Paulo


Qual o segredo de Micale, que ainda não ganhou nada e todos gostam dele?

Mário Rogério Reis Micale, 47, muito prazer, é um cara que o torcedor brasileiro em geral desconhece.

Com bons trabalhos nas categorias de base dos clubes por onde andou, principalmente no Galo e no Figueirense, pode sair às ruas sem ser incomodado.

Não chega a ser carismático, é tranquilo no modo de falar e ganhou tamanha unanimidade entre os jornalistas que estão cobrindo a seleção olímpica masculina de futebol que é preciso desde já achar um defeito nele para não parecer babação de ovo, acriticismo, pecado mortal no exercício do bom jornalismo.

É que Rogério Micale tem o raro hábito de fazer o que fala que fará ao defender uma volta às origens do futebol brasileiro. Pior: o time dele bota a teoria em prática, como fez, principalmente no primeiro tempo, contra o Japão no amistoso do sábado passado (30) no Serra Dourada, em Goiânia.

O 2 a 0 foi pouco para espelhar a superioridade brasileira, mas o resultado era o menos importante tamanha a ideia ali desenhada e estampada, de alas que dão opção, zagueiros que saem jogando, apenas um volante e de bom passe, dois meias talentosos e três, no segundo tempo quatro, atacantes.

O ensaio foi tão bom que quem desafinou foi o maestro do time, alvo de críticas de torcedores sem noção, o ex-santista Neymar, exatamente o único que vinha de longo período de inatividade e, por isso, longe do ritmo ideal.

Há quem diga que o problema da seleção seja ele, imagine.

Que maravilha seria fosse verdade! O problema é Neymar!!!

Micale estava caroneado por Dunga, em mais uma obra do Marco Polo que não viaja, e acabou devolvido ao lugar que lhe cabe pela correção de Tite.

O gaúcho foi generoso e justo a ponto de provavelmente abrir mão da sonhada medalha de ouro olímpica que é obrigatória, razoavelmente menos complicada que em outras ocasiões não só por ser disputada aqui mas porque contra seleções sem estrelas.

Só que tão importante, ou mais, do que ganhar a medalha será como ganhá-la e é nisso que está a missão que Micale promete cumprir: vai ganhar bonito.

A África do Sul, em Brasília, nesta quinta (4), é o primeiro passo e fácil não deve ser, porque não só os africanos sempre se saíram melhor contra os brasileiros em Olimpíadas como o rival de agora vendeu caro sua derrota por 3 a 1 em amistoso em março passado, como Micale lembrou nesta quarta (3).

Micale que admira os métodos de Paulo Autuori e não tem medo de revelar seus medos ou reconhecer-se querido, a ponto de ser elogiado até pelo companheiro de mais uma cobertura, o repórter Sérgio Rangel, que não poupa nem a senhora mãe dele.

Eis aí o defeito de Micale: ele parece sedutor demais.


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