Folha de S. Paulo


Poço sem fundo

Sabe a França, aquele país cuja seleção de futebol massacrou a brasileira na final da Copa do Mundo de 1998? Aquela, que havia eliminado o time brasileiro em 1986, no México, e voltou a eliminá-lo, em 2006, na Alemanha?

Pois está na final da Eurocopa.

Sabe o São Paulo, o representante nacional que restou na Libertadores?

Perdeu dos colombianos do Atlético Nacional, no Morumbi com mais de 61 mil torcedores, e está praticamente fora da final, tamanho o tamanho (perdão por redundar) do milagre que terá de fazer, cheio de vazios (perdão pela aparente contradição), e contra um time que lhe é claramente superior mesmo que estivesse completo.

Sim, as ausências de Paulo Henrique Ganso e Kelvin, vítimas do calendário brasileiro que tem deixado o técnico argentino Edgardo Bauza, do São Paulo, e o treinador português Paulo Bento, do Cruzeiro, alarmados, pesaram, mas não só a expulsão de Maicon também pesou como a superioridade técnica dos colombianos é simplesmente abissal.

Este é o ponto.

É cada vez mais comum encontrarmos times melhores que os nossos e não apenas na Alemanha, na Espanha ou na Inglaterra, mas na Argentina, na Colômbia e, daqui a pouco, na Venezuela.

Seleções nacionais, por exemplo, como as do Paraguai e do Peru, têm sido um pesadelo para o time da CBF.

Fato é que pelo terceiro ano seguido não teremos um time brasileiro na final da Libertadores se não houver um milagre, um verdadeiro milagraço, em Medellín, na próxima quarta-feira (13).

Ninguém é obrigado a ganhar a Libertadores nem mesmo estar na decisão todos os anos.

Mas deixar de estar três vezes consecutivas é demais e pontua uma temporada em que a seleção foi novamente eliminada precocemente da Copa América e está fora da zona de classificação para a Copa do Mundo, em sexto lugar.

Atrás do Uruguai, tudo bem, do Equador (?!), da Argentina, normal, do Chile (!) e da Colômbia (!?).

Diante de tal quadro, o que faz o Marco Polo que não viaja (Viaja, Marco Polo, viaja!)?

Recebe o lobista Miltinho Lyra, encalacrado na Operação Lava Jato e operador de Renan Calheiros, em busca de garantir que o presidente do Senado permaneça sentado em cima da CPI do Futebol para que não sejam ouvidos os principais cartolas do país, entre eles o próprio viajante que não viaja.

Porque a CBF se preocupa muito mais com o Congresso Nacional do que com o Maracanã.

Ou em nomear apaniguados seus para a justiça esportiva, tão independente como um recém-nascido é da mãe, ou para os órgãos do governo, vaquinhas de presépio que mugem conforme o berrante.

Tudo com o silêncio cúmplice dos clubes ou com a cumplicidade explícita mesmo, porque cartola de clube só reclama para enganar a torcida.

O futebol brasileiro está no fundo do poço e como se sabe o poço não tem fundo, porque depois dele tem o abismo que segue célere em direção ao inferno, até que chega na China e, enfim, encontra a salvação, embora por pouco tempo, que o digam Vanderlei Luxemburgo e Mano Menezes.

Já Bauza, em vez de segurar o empate, quis vencer com um a menos, provavelmente por estar farto daqui e disposto a chutar o balde.


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