Folha de S. Paulo


Pelos gramados do mundo

A EUROCOPA não mostrou novidades nem jogos inesquecíveis em sua primeira fase.

É possível que os mata-matas mudem tal percepção.

A Copa América Centenário revela uma Argentina mais coletiva, um Lionel Messi magistral e alguns jogos de ótima qualidade, além do já eterno 7 a 0 do Chile, um time amadurecido, sobre o México.
Não se precipite.

Ninguém está dizendo que a Copa América está melhor que a Euro, embora a final de hoje do torneio americano seja mais imperdível que quaisquer dos jogos pelas oitavas de final do europeu.

Se bem que, logo às 10h desta manhã, tenhamos a revanche entre França e Irlanda, a chance de os irlandeses se vingarem do lance de mão de Henry que os eliminou da Copa do Mundo de 2010.

A vantagem do festival do Velho Mundo está em que todos seus campeões mundiais sobreviveram à fase de grupos, enquanto por aqui tanto a seleção brasileira como a uruguaia ficaram miseravelmente pelo começo do caminho.

Os dois torneios têm o tradicional defeito de serem disputados em final de temporada, com seus principais protagonistas desgastados.

Messi parece estar acima disso, diferentemente de Cristiano Ronaldo, sem se dizer que Luisito Suárez nem pôde defender o Uruguai, assim como Neymar ficou fora, mas por outro motivo -a Olimpíada.
Mas não é nada disso que mais chama atenção nas duas competições agradáveis de serem vistas.

Seus gramados, tanto nos Estados Unidos quanto na França, são fartamente responsáveis pela velocidade dos jogos, pelas bolas que deslizam sem sobressaltos, o óbvio: num campo de jogo perfeito até jogadores medíocres se dão bem. O contrário também é verdadeiro: maus gramados prejudicam até os craques.

Experimente dar um piano desafinado a um virtuoso como Arthur Moreira Lima. Nem o hino do Fluminense de seu coração será bem executado.

Aí chegamos ao ponto.

Boa parte, ou má, da qualidade precária do Brasileirão se deve aos gramados.

Com exceção de um ou outro, como o da Arena Corinthians, em regra a situação continua a ser lastimável, embora um pouco melhor do que em outros tempos. Mas, ainda assim, insuficiente.

Apesar de a CBF ter prometido que já nesta temporada seria diferente pois especialistas contratados pela entidade garantiriam gramados perfeitos.

Ora, gramados perfeitos são, necessariamente, bonitos, embalagem obrigatória para o espetáculo.

Quem viu Galo e Corinthians, no Mineirão, com marcação de futebol americano para o jogo de futebol inglês, viu aquilo que não é para inglês, nem ninguém, ver. E olhe que não sem se trata aqui de comentar a arbitragem, que deixou de dar dois pênaltis claros, um para cada lado, validou um gol mineiro em impedimento claro na origem da jogada e marcou perigo de gol no que se desenhava como o empate corintiano.

Não há jeito que se dê na CBF, tão ruim de jardinagem como de arbitragem. Daí ser inevitável que as crianças brasileiras saiam por aí vestidas com as camisas do Barcelona, Real Madrid, Chelsea, Bayern de Munique etc e tal.

Até com a da Alemanha...

Síndrome de Estocolmo? Não.

Bom gosto. Valorização do belo.


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