Folha de S. Paulo


Lágrimas de crocodilo

Você sabe como nasceu a expressão lágrimas de crocodilo?

Eu não sabia ao me ocorrer usá-la e foi fácil saber.

Trata-se de uma expressão lusitana.

Crocodilos comem suas presas inteiras, sem mastigá-las, e o esforço é tamanho que a mandíbula comprime as glândulas lacrimais, o que dá a impressão de que estão chorando, quando apenas lacrimejam.

Assim fazem também os presidentes de clubes quando reclamam da CBF, em regra só para dar satisfação aos torcedores.

Como aconteceu recentemente, quando o presidente do Santos, Modesto Roma Júnior, protestou contra a convocação de Lucas Lima e Gabigol para disputar a Copa América Centenário.

Roberto de Andrade imitou-o ao romper com a CBF por causa da contratação de Tite, único brasileiro pego de surpresa pela negociação.

Ora, que a CBF age sem a menor preocupação com seus filiados é mais que sabido e que suas justificativas beiram o ridículo não é novidade, basta ver o que disse o secretário-menor da entidade, Walter Feldman, ao explicar que a primeira conversa com o técnico não era uma negociação, apenas uma sondagem, daí não tê-la comunicado.

O respeito à inteligência do próximo é nenhuma.

Dito isso, vamos ao problema real: os cartolas dos clubes são os principais responsáveis por serem vítimas da CBF, porque, embora maioria no colégio eleitoral, seguem cúmplices ao eleger e reeleger seus mandatários.

Bastidores corintianos dão conta de que desta vez a ruptura é para valer. Será mesmo?

O presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, outro que falava em ruptura, capitulou diante de um desmoralizante convite para chefiar a delegação no fiasco da Copa América.

Imagine o estrago, ou melhor, o conserto que fariam no futebol brasileiro se os dois clubes mais populares se juntassem para liderar a revolução que tarda e falha.

Que fique claro de uma vez por todas, embora a obviedade deva ser repetida à exaustão: a CBF jamais será a solução para os clubes brasileiros.

A solução já foi encontrada pelo mundo afora e se chama Liga de clubes. Se não aconteceu até hoje a razão é simples: com as raras exceções de praxe, os cartolas dos clubes a rejeitam.

Enquanto o gol de nosso futebol for ganhar Copas do Mundo, a CBF seguirá enchendo as burras, vampirizando os clubes e enriquecendo seus cartolas.

PIOR A EMENDA

Anuncia-se que Paulo Schmitt, eterno procurador do STJD, o homem que virou uma franquia na justiça esportiva do país, está de saída do tribunal da CBF.

Seria para festejar, não fosse o que corre nos bastidores: por convite do ministro interino do Esporte, Leonardo Picciani, Schmitt assumirá a APFut (Autoridade Pública de Governança do Futebol), criada para fiscalizar a aplicação da Profut, a nova lei do futebol.

Será como botar a raposa para tomar conta do galinheiro, porque uma indicação da CBF.

Assim, a saída de Schmitt do STJD antes de ser por causa de seu desgaste, alvo de manifestação dos clubes da Série A, por escrito, que exigiu sua saída, mas uma promoção para assegurar que tudo ficará como está.

Quem acha que chegamos ao fundo do poço se engana.


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