Folha de S. Paulo


De quem é a culpa?

Rodrigo Caio, do São Paulo e da seleção brasileira olímpica, estaria comendo o pão que o Galo amassou caso não voltasse classificado de Belo Horizonte.

Porque falhou no segundo gol mineiro, o que daria a vaga nas semifinais da Libertadores ao Atlético.

Falhou e admitiu tão logo o jogo terminou, porque fruto de cruzamento longo da esquerda para a direita de Douglas Santos em bola que viajou alta e caiu nas suas costas para ser arrematada por Carlos.

Há quem veja erros também dos dois goleiros no incandescente 2 a 1 de um primeiro tempo épico.

Denis teria falhado ao espalmar para Cazares pegar o rebote do potente chute de Marcos Rocha, além de ter se revelado um azarado ao ver a bola bater em seu pé e entrar no 1 a 0.

E São Victor teria errado ao permitir o gol qualificado de Maicon porque bola na pequena área é do goleiro.

Nem um e nem outro falharam

Goleiros não jogam vôlei ou basquete e quando defendem um chute forte fazem o que é possível para evitar o gol, sem condições de botar a bola onde querem.

É muito diferente de ter a bola nas mãos, para dar um passe ou um chute à cesta. Ou de receber uma bola levantada para cravar no solo adversário.

Bola na pequena área só é do goleiro quando este não tem três armários à sua frente para impedir seus movimentos, caso do gol de Maicon em disputa pelo alto com Leonardo Silva e Lucas Pratto.

Em vez de se louvar o chute cruzado de Marcos Rocha e a boa colocação de Cazares, culpa-se o goleiro pela defesa parcial ou o zagueiro que não marcou o atacante.

Em vez de se elogiar o escanteio muito bem cobrado por Kelvin e a subida na raça de Maicon, acha-se no goleiro o bode expiatório ideal.

Assim é e não de hoje.

Temerário dizer que tenha começado com Barbosa, na Copa de 1950, mas seguramente o grande goleiro é o melhor exemplo de como uma injustiça se perpetua a ponto de ele ter morrido culpado com trânsito em julgado pelo tribunal da voz do povo.

Toninho Cerezo foi o bode da vez 32 anos depois, embora tenha errado um passe que poderia ter sido corrigido por dois companheiros, Oscar e Júnior, além de a seleção brasileira ter empatado o jogo em 2 a 2 depois do lance, o que valeria a classificação para as semifinais da Copa do Mundo na Espanha. No terceiro gol italiano, o do triplete de Paolo Rossi, a participação de Cerezo foi nenhuma.

Menos mal que ele, diferentemente de Barbosa, dá de ombros, não liga à mínima para quem queira culpá-lo.

Não é a mesma situação de Alexandre Pato, no Corinthians, depois que bateu aquele pênalti de cavadinha contra o Grêmio na Copa do Brasil e Dida recolheu a bola como se tira doce de criança. Ali ele correu o risco de uma escolha irresponsável e paga por isso até hoje - aliás, quem paga é o próprio Corinthians e muito.

Menos mal para Denis e Rodrigo Caio que o São Paulo está nas semifinais e os lances serão esquecidos.

São Victor tem tanto crédito que ninguém se atreverá a crucificá-lo no Galo.

Mas seria de bom tom, em vez de buscar culpados, apontar os méritos de quem faz os gols.

Além do mais porque quem os toma já sofre o suficiente.


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