Folha de S. Paulo


Vida e morte do futebol

A semana começou com o último capítulo de um conto de fadas com final feliz, como devem terminar todos os contos de fadas: Leicester campeão inglês.

O palco não poderia ser mais apropriado, a Londres da rainha, no estádio do milionário Chelsea, numa verdadeira batalha campal com o Tottenham, o único que poderia impedir a festa na pequena Leicester, a menos de 200 quilômetros da capital.

Se sobrou incomum violência no clássico londrino, também não faltaram emoções nos dois gols que pareceram a permanência do sonho em Leicester e nos dois do empate que o transformaram em realidade.

A conquista inédita do pequeno Davi contra tantos Golias é dessas que estimulam aventuras pelo mundo afora.

Não que o futebol do Leicester seja encantador, longe disso, nem poderia. Mas, de tão eficaz, empolgou.

Difícil imaginar numa campanha de 38 jogos tudo dar tão certo para um time como se viu.

Quantas vezes em contra-ataques o Leicester saiu de situações nas quais quase sofreu o gol e terminou por fazê-lo?

Dizer que o time do adorável italiano Claudio Ranieri deu aulas de pragmatismo é confundir ser prático com ser inacreditavelmente implacável.

Eddie Keogh/Reuters
Britain Football Soccer - Leicester City fans watch the Chelsea v Tottenham Hotspur game in pub in Leicester - 2/5/16 Leicester City fans celebrate Chelsea's second goal Reuters / Eddie Keogh Livepic ORG XMIT: UKYhNO
Torcedores comemoram título inglês em pub de Leicester

Estava tudo muito bom, estava tudo muito bem, e veio o dia seguinte, a terça-feira em Munique.

O jogo bonito do Bayern de Munique deveria prevalecer sobre, aí sim, o pragmatismo catimbeiro do Atlético de Madri.

Deveria e prevaleceu, mas por 2 a 1, insuficiente para o time de Pep Guardiola chegar à final da Liga dos Campeões.

Porque o futebol, além de belo e surpreendente, é cruel, como na Copa do Mundo de 1982.

Os bávaros saíram na frente rapidamente, desperdiçaram um pênalti que provavelmente mataria o embate, sofreram o empate no primeiro contra-ataque espanhol, já no segundo tempo, fizeram o segundo gol com tempo suficiente para fazer o terceiro, viram um pênalti ser mal marcado contra, evitaram o empate, mas não conseguiram o tento que tantas vezes foi ensaiado.

Pode parecer contraditório saudar o Leicester e lamentar o triunfo do Atlético. Vai ver, é.

Longe daqui desmerecer o trabalho de Diego Simeone, basta dizer que pela segunda vez ele leva seu time à decisão do melhor torneio de clubes do planeta e está cabeça a cabeça com os poderosos Barcelona e Real Madrid no Campeonato Espanhol, com um time incomparavelmente menos estrelado.

O problema, para quem é romântico e devoto do jogo bonito, está em que seu time eliminou as duas equipes que fariam a final que o mundo queria ver: o Barcelona e o Bayern.

Os gols qualificados tiraram Pep Guardiola e Lionel Messi da finalíssima, os dois gols dos insatisfatórios 2 a 1 para os anfitriões catalães e alemães. Uma lástima.

Outra vez, como em 2014, Madri é a capital europeia do futebol e terá seus dois times na final.

A coluna torcerá contra o Real.

Outra contradição?

Não, aí não.

É a única chance de ver um time brasileiro campeão mundial novamente, caso algum deles ganhe a Libertadores.

Bastará jogar com a gana, e a disciplina tática, do Atlético de Madri.

Sem o risco da companhia do presidente da CBF no Japão. Viaja, Marco Polo, viaja!


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