Folha de S. Paulo


Algo de podre no combate à violência

MAL INFORMADO pelo Ministério Público de São Paulo, o secretário da Segurança paulista meteu os pés pelas mãos ao decidir por torcida única nos clássicos entre os grandes do Estado.

O Paulistinha, que desgraçadamente se arrasta, chegará ao seu final de maneira monocórdica, mais sem graça ainda.

O secretário não percebeu que, além de a medida ser inócua, serve apenas para diminuir cada vez mais o caráter festivo que deve ter um jogo de futebol. E não se deu conta de que, daqui para frente, os raivosos não terão dúvidas sobre para quem torcem as pessoas que se dirigirem à Vila Belmiro, ao Morumbi, a Itaquera e Água Branca.

Ficou muito mais fácil emboscá-las no caminho, saiam de onde saírem.

Proibir, proibir e proibir. Assim fazem os que não sabem como resolver os problemas.

Os mastros das bandeiras podem ser usados para brigar? Proíba-os! Os instrumentos de som podem virar armas? Nada de música instrumental nos estádios! Um livro pode ser usado para fazer uma fogueira nas arquibancadas? Nem pense em levar um para se entreter antes ou durante o intervalo de um jogo.

Acredite a rara leitor e o raro leitor ou não, estudantes que saem das escolas para ver um jogo têm este problema em São Paulo. Onde deixar o material escolar?

O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, tinha apenas 6 anos de idade quando, em 1968, era proibido proibir. Mas supõe-se que tenha ouvido Caetano Veloso transformar em mote as pichações dos muros parisienses de então.

Faz mal se não ouviu, mas fez pior ao ouvir quem não deveria estar na função de combater a violência de torcidas no Estado, o promotor de Justiça Paulo Castilho, há mais de uma década perdida na função.

Castilho, além de viver promiscuamente com a cartolagem que deveria investigar, de lançar livro na Federação Paulista de Futebol, de bajular o "doutor Marin" como vi no Fórum da Barra Funda, quando não teve a sensatez de se dar por impedido para me acusar numa ação do hoje preso ex-presidente da CBF (objeto permanente de minhas críticas, era o mínimo que se poderia esperar de Castilho), convenceu Moraes de que a torcida única é a solução.

Há algo de podre no reino da segurança pública paulista.

Visualize as cenas: chefes da corintiana Gaviões da Fiel, que denunciam o escândalo da merenda que envolve o deputado Fernando Capez (PSDB), ex-ocupante do posto de Castilho, são agredidos ao saírem de reunião com o promotor.

Os supostos agressores, da torcida palmeirense Mancha Verde, são presos na sexta-feira que antecede ao Dérbi e está pronto o clima para as vinganças, armadilha em que um bando de cretinos faz questão de cair. Por que as prisões não foram feitas na segunda-feira?

Pronto! Morre um inocente, o metrô é depredado, as rixas se multiplicam e vem a decisão drástica que proíbe, entre outras coisas, as faixas que cobram a Globo, acusam a corrupção da cartolagem e denunciam o roubo das merendas, repita-se, que envolve um possível sucessor do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Os clássicos paulistas terão sabor de picolé de chuchu e as brigas seguirão acontecendo no caminho dos estádios.


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