Folha de S. Paulo


Seleção do Brasil? Pfiu!

Se você pensa que está faltando comando só em Brasília, engana-se.

Falta também na CBF e, como consequência, na seleção brasileira, que pelo menos até setembro estará na incômoda sexta posição entre as dez seleções que disputam as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

Atrás do Uruguai (tudo bem), do Equador (!!!), da Argentina (OK), do Chile (!!) e da Colômbia (!).

Na frente mesmo só dos fragílimos Peru, Bolívia e Venezuela, porque com o mesmo número de pontos do Paraguai.

Ah, o Paraguai!

O que se viu anteontem no Defensores del Chaco foi indefensável.

Os pracinhas do sargentinho Dunga levaram um vareio de bola no primeiro tempo da, cá entre nós, apenas empenhada seleção paraguaia.

O 1 a 0 caiu do céu e pode ser atribuído às duas defesas milagrosas do goleiro Alisson.

Nosso simpático sargentinho, sempre com um sorriso no rosto tamanho o prazer que o futebol lhe proporciona, resolveu voltar a ter um centroavante centroavante, um homem de referência na área, mas se esqueceu de providenciar que a bola chegasse até ele. A única que chegou foi espetacularmente chutada no travessão.

Enquanto Fernandinho e Luiz Gustavo davam cabeçadas, um no outro bem entendido, Lucas Lima, o melhor meio-campista brasileiro, a tudo via, no banco.

Se 1 a 0 era pouco no final do primeiro tempo, 2 a 0 foi bom no começo do segundo e daí para mais pareceu questão de tempo.

Só que estranhamente o Paraguai recuou, não acreditou que poderia golear e, enfim, exatamente na metade da etapa final, Dunga teve um acesso de coragem e, adepto de dois volantes botocudos como é, resolveu ficar sem nenhum. Pôs Lucas Lima para jogar.

O jogo mudou. Não da água para o vinho que seria um exagero.

Mas a qualidade da posse de bola melhorou e a seleção passou a dar a sensação de que até poderia fazer um gol.

Fez, graças ao goleiro guarani, que bateu roupa miseravelmente num chute de Hulk e possibilitou o rebote a Ricardo Oliveira.

Como faltavam uns 15 minutos para o jogo acabar, e como os paraguaios pareciam tomados de um pavor sem o menor cabimento, eis que os soldadinhos de Dunga buscaram de um lado, buscaram de outro e, de onde menos se esperava, obtiveram o prêmio ao seu esforço, o empate, nos acréscimos, com Daniel Alves.

A pátria estava salva, quer dizer, remediada e, acredite, nestes tempos bicudos do Oiapoque ao Chuí (sempre quis usar a expressão, há anos fora de uso), Deus provava ainda ser brasileiro.

O Pacheco, no entanto, o mais fervoroso dos torcedores do escrete (outra palavra que sempre quis usar e uso aqui pela primeira vez, aliviado), ficou fulo da vida porque apostava que a derrota derrubava Dunga sem a contribuição do PMDB.

Já os corintianos viram no gol de Dani Alves exatamente a salvação de Dunga e do Corinthians, com a permanência de Tite.

Egoísmo, dirá você, preocupado com o difícil caminho até Moscou.

Sim, de fato, embora o argumento alvinegro seja imbatível: quando a farinha é pouca, meu pirão primeiro.

Além do mais, se Marco Polo Del Nero não tem coragem de pegar o telefone e se despedir de Dunga o problema é dele.


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