Folha de S. Paulo


Uma estátua para Tite

São Tite. Já há quem peça a canonização do técnico corintiano, como em regra são canonizados os goleiros, exemplos de São Marcos e São Victor.

Não que o futebol do Corinthians seja celestial e nem seria possível com o atual grupo de jogadores médios do time.

Louva-se, sempre e com justiça, o sistema que ele impôs, seja com quem conte para escalar.

O que o coloca pelo menos um patamar acima dos demais treinadores no país, incapazes de fazer jogar equipes até mais talentosas que a corintiana.

E não se diga que Tite teve mais tempo porque este Corinthians que aí está é de ontem.

Com salários atrasados, Tite levou seus comandados ao hexacampeonato brasileiro no ano passado e, nesta temporada, mesmo em meio às tempestades que lavam a jato o estádio em Itaquera, o time segue em sua toada, mais para cima do que para baixo, independentemente do que tenha acontecido contra o São Bernardo na noite de ontem.

Ironias da vida, Tite deve muito de sua trajetória no Corinthians a Andres Sanchez, que o manteve depois da famosa eliminação na pré-Libertadores pelo Tolima.

Sanchez, bocudo como é, hoje diz que o manteve para não pagar a multa e porque qualquer outro que entrasse daria no mesmo, seria trocar seis por meia dúzia, porque os técnicos são todos iguais.

Bobagem ou mera gracinha dele. Fato é que manteve e deu no que deu.

O que não tem graça alguma é como Sanchez segue tratando o Corinthians, mesmo sem cargo.

Crônica de um escândalo anunciado, a operação Lava Jato chegou à Arena Corinthians, e sob o codinome "Timão" a Odebrecht, que ergueu o estádio, pagou R$ 500 mil ao vice André Luiz de Oliveira, o André Negão, braço direito de Sanchez, chefe de seu gabinete como deputado federal do PT, morador do mesmo edifício que o ex-presidente do Corinthians, única pessoa em que ele realmente confia, segundo os que lhes são próximos.

Sanchez já se gabou de que só ele, Lula e Marcelo Odebrecht cuidaram das contas do estádio. Está gravado.

Por imprecisão nossa, jornalistas, os tais R$ 500 mil foram chamados de propina quando o correto será chamá-los de dinheiro de campanha eleitoral.

Importa registrar que Sanchez trata o Corinthians como se fosse dele e o usa para seus propósitos partidários, até para tentar eleger André Negão vereador nas próximas eleições –mas pelo PDT, usado agora pelo PT, em baixa com o eleitorado, em operação conduzida pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho.

Negão é preparado para ser o Obama do Corinthians, o primeiro presidente negro do clube, o que seria exemplar não tivesse ele o passado de bicheiro que tem.

Não satisfeito, Sanchez dá emprego no clube para um filho de Lula aqui, no estádio para uma filha de José Dirceu ali, e vida que segue, em total desrespeito às tradições centenárias do Sport Club Corinthians Paulista.

Nada disso cola em Tite que, naturalmente, embora faça o discurso da honestidade e da transparência, é grato a Sanchez.

(Diga-se que empregado algum deve ser acusado dos erros de seus empregadores.)

Mas impressionante mesmo é que nada disso contamine o time. Graças a Tite.


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