Folha de S. Paulo


Edson Mineiro

A seleção brasileira amanhã ou depois poderá entrar em campo com a seguinte escalação: Diego Alves, Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Filipe Luís; Luiz Gustavo, Lucas Lima e Renato Augusto; Douglas Costa, Ricardo Oliveira e Neymar Júnior, que é como, ao menos, ele gostaria de ser chamado.

Um time sem nenhum nome simples, assim como Marcos, Cafu, Ditão, Oscar e Rildo; Falcão, Zico e Sócrates; Garrincha, Tostão e Pelé. Ou Coutinho. Ou Careca. Ou Romário.

Por que será? Dobraram os nomes e dividiram o futebol!

Narradores reclamam. Dizem que é mais fácil narrar uma jogada do croata Mandzukic do que de Philippe Coutinho. Do alemão Schweinsteiger do que de Roberto Firmino, o que já parece um exagero deles.

Mas, de fato, há inflação de nomes compostos, de nomes e sobrenomes, além de uma profusão de Luizes e Alves e, é claro, de Silvas e Souzas.

Aquilo de dizer que futebol é simples, arroz com feijão, ficou para trás, perdeu-se na memória.

Há melhor nome para um zagueiro do que Ditão?

Ou, vá lá, do que de um impetuoso Oscar?

Vai ver, talvez, e é só uma especulação maluca, é por isso que o atual meio-campista da seleção que atende pelo mesmo nome não dá tão certo como o ex-zagueiro da time canarinho de 1982, da Ponte Preta e do São Paulo.

Dá saudades de Pagão, de Zague, até de Tonhão e Odvan e Cafuringa.

De Zito, então, nem se fale. Dino!

O Flamengo teve um ataque fantástico nos anos de 1950 que tinha três endiabrados, de apenas quatro letras: Joel, Babá e Dida.

Era fácil narrar, era uma delícia escutar: "De Joel para Babá, Babá para Dida e gol!".

Ou como Chico Buarque, em "O futebol": "Para Mané para Didi para Mané Mané para Didi para Mané para Didi para Pagão para Pelé e Canhoteiro".

Para não falar de Dudu, do Palmeiras.

Sim, de Didi, o melhor da Copa do Mundo de 1958, ainda que com as presenças de Mané e Pelé.

Tente cantar algo parecido com os jogadores da seleção atual e escape do trava-língua se for capaz.

É claro que há exceções —e são tantas que acabam por não ser.

De Leônidas da Silva a Ademir de Menezes ou da Guia —Domingos ou o filho.

De Nilton Santos a Mauro Ramos de Oliveira.

Mas são casos em que se falava ou escrevia o nome inteiro para aumentar a nobreza do futebol que jogavam, a pompa e a circunstância, era como se fosse um título nobiliárquico: Roberto Rivellino, o Reizinho do Parque.

Na narração dos jogos, porém, eram só Leônidas, Ademir, Domingos, Mauro ou Rivellino.

Nilton Santos não, era Nilton Santos mesmo.

Marquinhos Gabriel será só um modismo?

Modismo como o que ao nome se acrescenta a origem do jogador, como Juninho Pernambucano, Juninho Paulista, Marcelinho Carioca, Marcelinho Paraíba, Júnior Baiano, Dudu Cearense?

Pense se fosse hoje em dia, um neguinho vindo do interior para jogar num grande clube.

Magrinho, tímido, humilde.

"Não, este nome não! É ridículo. Vamos chamá-lo de Edson Nascimento", batizaria o presidente.

"Tenho ideia melhor", diria o diretor de marketing.

"Vamos chamá-lo de Edson Mineiro, porque ele é de Três Corações".

Pelé teria sido apenas um apelido de infância.


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