Folha de S. Paulo


A CBF sangra

Mas nem aprovar suas contas a CBF consegue sem que haja atropelos na Justiça, liminares, derrotas, pela total falta de transparência.

Não bastassem os problemas de seus três últimos presidentes com o FBI, tudo que no ex-edifício José Maria Marin é tramado acaba denunciado como ao arrepio da lei ou do regulamento ou do estatuto.

A lei determina que todos os clubes das séries A e B votem. Às vezes a Casa Bandida permite, às vezes não permite.

O estatuto diz que o voto é qualitativo, mas o regulamento da Série C acaba de ser decidido pelo voto unitário e o resultado foi o contrário do que seria se o texto fosse obedecido.

Até uma simples ata de reunião da entidade é posta sob suspeita pelos cartolas que da reunião participaram, e da ata fazem parte, com presidente de federação negando que tenha dito isso ou aquilo, feito esta ou aquela crítica, este ou aquele elogio.

Mas não só.

Há o tal comitê de 17 membros para fazer a "reforma" do futebol brasileiro.

Como bem colocou o editorial desta Folha ontem, "há justificadas dúvidas sobre a independência de um comitê de reformas composto majoritariamente de cartolas, presidentes de federações estaduais e pessoas ligadas à própria CBF".

A CBF vive de falsificar os fatos –e agora, até as atas– ao dizer que seus críticos se limitam a criticar e não propõem soluções.

Nada mais distante da verdade.

Seus críticos propõem acabar com a cláusula de barreira nas candidaturas à presidência, fundamento básico para evitar eleições democráticas; propõem exaustiva e minuciosamente outro calendário para o futebol brasileiro; sugerem novas formas de governança, como a sociedade anônima futebolística; querem que a CBF cuide das seleções e deixe os campeonatos para liga dos clubes; preconizam até a mudança de nome da entidade, de CBF para ABF, a troca de Confederação para a Associação, como se dá pelo mundo afora porque federações estaduais são pragas exclusivamente nacionais e o diabo a quatro.

Cega, surda e prolixa, só para usar o discurso que esconde a intenção, a CBF não aceita nada que não seja espelho e a prova disso está nos 17 membros de seu comitê de reformas.

Por que ninguém do Bom Senso FC? Por que ninguém da Universidade do Futebol? Por que ninguém dos Atletas pelo Brasil?

Pelo menos para dar uma equilibrada, com cabeças que, aí sim, possam somar às boas intenções do presidente do São Paulo, dos três ex-jogadores que lá estão, de um ou outro advogado menos dependente das benesses cebeefianas, além da craque Formiga.

A resposta é simples: porque são entidades modernas, de vanguarda, que ameaçam as práticas jurássicas, e corruptas, da Casa Bandida que se diz transparente e proíbe que se retire da sede os dados do balanço que quer aprovar sem que ninguém possa se aprofundar nos números.

A CBF sangra em praça pública e imagina que ainda engana alguém, além de baixar o preço de seus patrocínios para atrair substitutos dos que saíram cansados de escândalos.

A CBF também se jacta de ter publicado seu estatuto.

Lembre-se: só o publicou depois que o dito cujo estava estampado num blog do UOL.

Pense no Coronel Nunes na CPI do futebol, dia 16.


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