Folha de S. Paulo


Realidade amarga

A primeira rodada da Libertadores mostrou o já sabido: sete pontos em 15 possíveis, pouco futebol e um drama a cada jogo, porque nossos times estão nivelados por baixo e porque as condições ambientais são muitas vezes complicadas, como altitude, secura, gramados ruins e arbitragens em espanhol.

É chover no molhado dizer que todos os jogos da Libertadores são difíceis, mesmo porque sempre foram, até nos tempos do Santos de Pelé, quando havia bem menos jogos, mas os adversários eram só os campeões nacionais, o doping corria solto, também entre os brasileiros –leia "Eu e o futebol", de Almir, o Pernambuquinho– e a intimidação das torcidas era pior.

O que não se justifica é o soberano São Paulo perder para um time boliviano, cuja única arma sempre foi a altitude de La Paz.

Ou o rico Palmeiras apenas empatar com o modesto River Plate uruguaio, mesmo fora de casa, sem altitude, sem viagem longa, sem clima desértico.

Sem futebol, sejamos francos.

Todos não dizem que o que faz a diferença do Real Madrid, do Barcelona, do Bayern de Munique, Chelsea, etc. para os demais é o dinheiro?

E dá para comparar o investimento palmeirense ao do genérico River?

Por favor, esqueça o Leicester, exceção das exceções e que ainda precisa ser confirmada –para o que, aliás, esta coluna torce sem constrangimento.

O que falta por aqui é futebol.

A tal ponto que alguém escreveu para a coluna e desejou que nenhum dos cinco brasileiros ganhe a Libertadores para não ser humilhado no Mundial de Clubes, como vimos o Barcelona fazer com o Santos.

É verdade que quatro times brasileiros ganharam o mundial original, a Taça Intercontinental, ao jogar melhor ou de igual para igual com Benfica, Milan, Liverpool, Hamburgo, Barcelona e Milan de novo. Outros tempos.

Santos, Flamengo, Grêmio e São Paulo eram melhores que seus adversários.

Nos Mundiais mais recentes, os da Fifa, mesmo as vitórias contra Liverpool outra vez, Barcelona novamente e Chelsea, foram, como se sabe, por 1 a 0 –e duas delas para fazer de Rogério Ceni e Cássio os melhores em campo.

São Paulo, Inter e Corinthians se jogassem 10 vezes contra os mesmos adversários talvez ganhassem, no máximo, duas.

Não se trata de complexo de vira-latas, é apenas a amarga verdade.

Outro amigo da coluna até exagera ao dizer que se houvesse divisões mundiais o futebol nacional estaria na terceira, pois há 40 times melhores.

Do ponto de vista da governança, de pleno acordo. Do ponto de vista técnico, nem tanto.

Da para pegar um lugarzinho talvez na primeira e certamente na segunda divisão, mas que há ao menos 15 times estrangeiros melhores que o melhor brasileiro parece correto.

Não chegamos a tamanho pântano por acaso. Nos esforçamos durante anos para chegar ao fundo do poço, com Teixeiras, Marins, Neros e Nunes e modelos de gestão, nos clubes, da primeira metade do século passado.

Dá raiva ver PSG x Chelsea com tantos brasileiros em campo ou os chineses, e americanos, despertarem para o significado do futebol enquanto seguimos dormindo em berço esplêndido e em meio à corrupção desenfreada.


Endereço da página:

Links no texto: