Folha de S. Paulo


Tucanaram o Majestoso

PODERIA SER, ao menos, tratado como a revanche do 6 a 1 do ano passado, quando, repleto de reservas, o Corinthians aplicou goleada histórica no rival.

Ou, ainda, como a tentativa do São Paulo de ganhar do adversário pela primeira vez na casa dele, no quarto jogo entre ambos, com três vitórias alvinegras, placar agregado de estonteantes 11 a 3.

Mas o 165º Majestoso pelo campeonato estadual –60 vitórias corintianas, 53 são-paulinas, os dois com times mistos– apenas revela a desimportância do Paulistinha.

O Majestoso virou "Mistoso".

Libertadores no horizonte, o Corinthians pensa no chileno Cobresal, adversário da quarta-feira que vem, na altitude (2.300m) desértica do Atacama, e o São Paulo no boliviano The Strongest, felizmente ainda no Pacaembu –e ainda não na desumana altura (3.600m) de La Paz.

Verdade que é difícil saber quais são os times titulares dos dois clubes, em começo de temporada e em fase de testes, principalmente em relação aos anfitriões em Itaquera, cujos reservas de ontem hoje posam de titulares e os reservas de hoje têm ares de titulares amanhã.

Nem Adenor Tite nem Edgardo Bauza querem perder, mas aceitariam agradecidos uma proposta de empate sem ter de jogar e não trocam um triunfo hoje pela vitória no meio de semana. Apesar de nem o Cobresal, modesto clube dos mineradores andinos, nem o Strongest, que só é forte mesmo pertinho do céu boliviano, significarem absolutamente nada na história dos brasileiros –rivalidade zero.

A Libertadores assumiu tamanha importância que, apesar dos jogos ruins e violentos em lugares muitas vezes inóspitos, suplanta até o Campeonato Brasileiro como sonho de consumo de nossos torcedores, e por causa, de nossos clubes.

O que uma derrota hoje pode significar na vida corintiana?

Quase nada, ainda mais que o próximo jogo é fora de casa.

E na são-paulina? Um pouco mais por jogar na sua cidade, mas, mesmo que perca, o Pacaembu deverá lotar.

Lembremos, aliás, que um Majestoso, pelo Brasileirão, em 2012, antecedeu a viagem do Corinthians para disputar o Mundial de Clubes.

Então, no Pacaembu com apenas 22 mil torcedores, os reservas tricolores venceram por 3 a 1 e deram olé.

Dias depois o São Paulo ganhou a Copa Sul-Americana pela primeira vez ao disputá-la com o argentino Tigre e o Corinthians, ao derrotar o Chelsea, ganhou seu segundo Mundial. Aquele 3 a 1 perdeu-se desimportante na história.

Tudo pode acontecer hoje, inclusive nada, como um 0 a 0 sem graça, embora improvável, simplesmente porque quando uma camisa olha para outra as duas lembram que o Majestoso completa 80 anos neste 2016 –120 vitórias alvinegras, 93 tricolores e 98 empates.

Dois times mistos dão ao clássico este sabor de "Mistoso", neologismo tão sem graça como o Paulistinha, cuja graça maior, os clássicos, viram amistosos de luxo, talvez porque quem faz a tabela não se preocupa em pesquisar o que esteja acontecendo paralelamente na vida dos grandes em torneios mais valorizados.

E pensar que houve época em que o Campeonato Paulista era mais importante que a Libertadores da América...


Endereço da página:

Links no texto: