Folha de S. Paulo


Com Robinho na mira

Doutor Tostão gosta mais de Robinho do que eu.

Já disse e repito que, invariavelmente, quando discordo dele me dou mal.

Se bem que, no caso, não se trata de divergir, apenas de, digamos, diferenças nos níveis de admiração.

Tostão tem Robinho num patamar acima do que eu o coloco para sorte do jogador e azar meu.

Tostão o contrataria para o time dele e ainda o convocaria para a seleção, não necessariamente como titular, mas até como tal, conforme fossem os concorrentes.

Eu o contrataria hoje para o meu time apenas se fosse santista e mesmo assim por um salário no mínimo três vezes menor do que o que dizem ele estar pedindo, na casa do milhão de reais.

Robinho é a cara do Santos como o Santos é a cara de Robinho.

Ele não tem nada a ver com o Galo e muito menos ainda com o Grêmio, que só desistiu dele por causa da pedida salarial. Verdade que o técnico Roger Machado parece ter quase nada do que se convencionou chamar do modo gaúcho de jogar, mas Robinho e o Rio Grande do Sul não combinam.

O Galo aposta em repetir com Robinho o sucesso surpreendente que alcançou com Ronaldinho Gaúcho, mas nisso, tenho certeza, Tostão e eu estamos de acordo: não há comparação possível entre um e outro.

Ronaldinho foi gênio, por pouco tempo, mas gênio, extraclasse, quase extraterrestre, como Mané Garrincha e Diego Maradona. (Pelé não entra em comparações.)

Considerado o melhor jogador do mundo em 2004 e em 2005, melhor jogador do Brasileirão de 2012 pelo Flamengo, onde "fracassou", e melhor da Libertadores de 2013, quando conduziu o Galo ao título.

Robinho foi eleito o melhor jogador do Brasil em 2002, quando surgiu feito um cometa e, embora tenha brilhado diversas vezes depois, jamais foi o que dele esperava, apesar de ter levado a carreira muito mais a sério que Ronaldinho, que o futebol perdeu para o mundo dos popstars.

Não são poucos os especialistas que não perdoam Luís Felipe Scolari por não tê-los convocado para a última Copa do Mundo, e não apenas pela experiência, mas pela capacidade técnica.

Admito que, apesar de Robinho não ter feito grande diferença em 2006 e em 2010, talvez com ele em campo, numa tarde sem Neymar no Mineirão, os 7 a 1 ficasse nuns 5 a 2.

O que não entendo é o desejo exagerado de cartolas santistas e atleticanos pelo jogador hoje, aos 32 anos e vindo de uma experiência malsucedida na China, onde comeu e dormiu e engordou, mais ficou no banco que jogou, num golpe, por assim dizer, como o de Ronaldinho no mexicano Querétaro.

Aquele Robinho das históricas e espetaculares oito pedaladas na decisão do Brasileirão-2002 não existe mais e sua carreira o inclinou mais para o estilo do quase só circense Denílson do que para o eficaz, embora também circense, Ronaldinho Gaúcho.

Em resumo, torço para que Robinho se acerte com o Santos, acredito que na Vila Belmiro ele ainda possa ser um ótimo coadjuvante com momentos de protagonismo –e gostaria de vê-lo tendo a generosidade de devolver em afeto o que o clube lhe proporcionou em visibilidade e fortuna.

Mas aí são outros 500 e só ele é capaz de dizer se faz sentido.


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