Folha de S. Paulo


E se...

E SE o magnífico goleiro italiano Dino Zoff não pegasse a cabeçada certeira de Oscar no finalzinho do jogo da Copa do Mundo de 1982, na Espanha?

Não teria havido a "Tragédia de Sarriá", ao contrário, seria a "Epopeia de Sarriá".

Talvez o futebol brasileiro se mantivesse arte e não entrasse na onda do futebol de resultados.

Que deu certo em 1994 e em 2002, mas sem deixar as saudades que sentimos do time de Leandro, Júnior, Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico.

E se, cinco anos antes, em 1977, Basílio Pé de Anjo não tivesse acabado com o jejum de quase 23 anos do Corinthians? Será que o Alvinegro estaria até hoje na fila?

Improvável, mas quem conviveu com as bruxas por mais de duas décadas acredita piamente que a busca continuaria por muito tempo.

E se Pelé tivesse ficado em Bauru?

Apareceria outro Waldemar de Brito para levá-lo para um clube do porte do Santos?

Ou ele se perderia pobre no rico interior paulista?

O futebol mundial ficaria sem Rei?

E se Rogério Ceni atendesse ao coração de criança e fosse para o Inter?

Teria uma carreira tão grandiosa?

Mas só Freud explica que sua maior falha tenha sido exatamente contra o Colorado numa final de Libertadores.

E se Nilson marcasse o segundo gol santista no primeiro jogo da decisão da Copa do Brasil?

Estariam os palmeirenses em festa?

Ou se Cássio deixasse passar a bola de Diego Souza nas quartas de final da Libertadores, contra o Vasco?

O Corinthians estaria ainda sem passaporte?

Ah, se Neymar tivesse jogado contra a Alemanha...

6 a 2?

De se em se, de discussão em discussão, os botequins enchem o papo.

Talvez enchessem um pouco menos se o futebol já tivesse adotado o auxílio de imagens para dirimir dúvidas de jogo.

Se assim fosse, o famoso gol da Inglaterra na final da Copa de 1966 não teria sido validado. Ou teria e a polêmica jamais morreria.

Certamente, no entanto, se o recurso de conferir com imagem estivesse em voga, o gol com a cabeça de Diego Maradona e a mão de Deus, na Copa de 1986, contra a Inglaterra, seria anulado e talvez a Argentina não fosse bicampeã mundial.

Outra coisa certa é que se o aparato tecnológico vigorasse o Campeonato Brasileiro deste ano teria sido bem menos problemático.

Por último, mas tão importante como, pense se o nosso futebol fosse dirigido, digamos, por cabeças como as que dirigem os esportes nos Estados Unidos.

Siglas também de apenas três letras, NBA ou NFL —veja, não se trata aqui de FBI.

O futebol brasileiro poderia ser para o futebol mundial o que a NBA é para o basquete e é possível até que já tenha perdido este trem.

Porque, se nossos cartolas ainda andam de bonde, os sobrinhos de Tio Sam voam a jato.

Se o Brasil quiser continuar um desastre em matéria de gestão esportiva, basta seguir adiante sem mudar coisa alguma, como, aliás, veremos na Olimpíada do Rio-2016.

Se, ao contrário, a intenção for virar gente grande, mesmo com tanto atraso, terá de fazer já as rupturas que jamais fez.

Aí, como o poeta, poderemos cantar: "Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver."


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