Folha de S. Paulo


O manifesto da esperança

Caso você lançasse um manifesto, pediria as assinaturas de Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero?

E de Chico Buarque, Luis Fernando Veríssimo e Walter Salles?

Pois é.

Os organizadores do manifesto "Por uma Nova CBF" não pediram as dos três primeiros e pediram as dos três últimos, exatamente porque não querem nunca mais ver o trio de cartolas no comando da CBF.

Obtiveram sem dificuldades, como obtiveram as de Pelé e Tostão, juntos novamente pelo menos na reivindicação de limpeza e democracia. Além das de Bernardinho, Tite, Paulo Autuori, todos campeões mundiais como Raí, um dos organizadores.

Zico, Ana Moser, Magic Paula, Fernando Meligeni, Tiago Splitter, notáveis.

Há oportunistas?

Sempre há, como há quem diga que a aproximação deles é sinal de vitória.

Há um goleiro que acabou de parar, Rogério Ceni, e outro que segue fechando o gol e abrindo as cabeças, Fernando Prass.

Tite e Prass provavelmente cerraram definitivamente as portas da CBF para eles e Autuori não tem nenhum interesse em trabalhar no atual futebol brasileiro.

Pergunte a Raí se ele quer presidir a CBF.

Responderá que não, mesma resposta de Alex, depois de ter brilhado no Coritiba, no Palmeiras, no Cruzeiro e no Fenerbahce.

Não há segundas nem terceiras intenções entre os signatários.

Há só a primeira, a de modernizar o esporte no país.

Quase todos os jornalistas esportivos que você respeita assinam, convencidos de que seria covardia se calar, como se fosse possível, guardadas todas as devidas proporções, a neutralidade na Segunda Guerra Mundial.

Organizações como a Atletas pelo Brasil, o Bom Senso FC e a Universidade do Futebol lavraram um tento magnífico ao mergulhar com tudo na iniciativa.

A insistência por todos os meios, os antiéticos principalmente, da manutenção no poder por parte dos que, há décadas, tomaram a CBF de assalto, é tão patética como a de Eduardo Cunha pela presidência da Câmara dos Deputados.

Parece que essa gente gosta de viver perigosamente, não acredita que acontecerá com eles o que já aconteceu com os seus parceiros –ontem foi a PF, anteontem foi o FBI, amanhã serão ambos.

Sobrenomes nobres da propaganda como Olivetto e Loducca, apaixonados pelos alvinegros da capital e das praias, chancelam o manifesto sem dizer dizendo que querem ver seus clientes livres do risco de serem contaminados pelos maus hábitos que a Fifa de João Havelange ensinou e a CBF de Ricardo Teixeira aprendeu rapidinho, até porque o começo da lição o próprio Havelange dera anos antes na CBD.

Vizinhos de outros cadernos como os queridos Prata e Duvivier disseram presente, assim como o doce PVC, e a brava Mariliz, além de tantos companheiros da ESPN Brasil, e de Ugo Giorgetti e Fernando Calazans, dois mestres não só no duro ofício de escrever, mas, também, da coragem e da dignidade pessoal.

Não dá para citar todos, o que é uma pena.

Mas dá para dizer que havia tempo que não se via uma manifestação tão bem sucedida apesar de organizada em tão pouco tempo, renovadora da esperança.

Ainda veremos uma ABF no lugar desta CBF.


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