Folha de S. Paulo


Afiada feito lâmina de barbear

A P&G resolveu não mais patrocinar a CBF, a Casa Bandida do Futebol.

A Gillette cortou, sem trocadilho, seu alto investimento na entidade e confirmou que foi porque não quer ver mais sua marca associada aos escândalos de corrupção que a abalam desde Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.

Antes tarde do que nunca, você poderá pensar e pensará certo.

Mas não seria justo deixar de realçar o didatismo da medida para incentivar outros patrocinadores a fazer o mesmo. E não são poucos e não são pequenos. Estamos tratando da Nike, Itaú, Vivo, Ambev, Sadia, Chevrolet, Mastercard, Samsung, Gol, Michelin, Ultrafarma e EF Englishtown.

A P&G, no Brasil, seguiu o exemplo de cinco grandes anunciantes que já tiraram seus times de campo da Fifa: Sony, Emirates, Castrol, Continental e Johnson&Johnson.

Outras multinacionais gigantescas como a Coca-Cola, Visa, McDonald's e Budweiser exigiram a imediata renúncia de Joseph Blatter e condicionaram suas permanências à nova governança e transparência.

O discurso de que patrocinavam a Copa, não a Fifa, se esgotou, como urge que se esgote, por aqui, o de que o patrocínio é para a seleção e não para a CBF. Até o 7 a 1 cabia o cinismo, porque argumentava-se que o time da CBF era vitorioso, pentacampeão mundial, blábláblá.

Ora, o pentacampeonato permanece e permanecerá, mas a imagem vitoriosa foi soterrada no Mineirão.

Por outro lado, a renúncia de Teixeira, a prisão de Marin e o licenciamento de Del Nero revelam que seguir respaldando a atual estrutura de poder é um tiro no pé, sem chuteiras.

Quem tiver coragem e quiser livrar suas marcas de tanta sujeira que siga o caminho da Gillette.

Sem riscos de se cortar.

FIASCO PAULISTA

Não cobremos valentia da Ponte Preta, Bragantino ou Oeste, três dos oito eleitores paulistas na assembleia da CBF.

Nem altivez da Federação Paulista de Futebol, uma mini-CBF comandada por velho parceiro de Del Nero.

Só deploremos a covardia de Corinthians, São Paulo, Santos e Palmeiras que, mais uma vez, ao concordar em votar no candidato do indiciado Del Nero para sucedê-lo mostraram que são farinhas do mesmo saco.

Pela primeira vez em 101 anos de CBF os clubes são maioria numa eleição, 40 contra 27 federações, e nem assim tomaram para si os destinos do futebol porque, no fundo, e no raso, são mais do mesmo e não querem mudança alguma, felizes em viver promiscuamente no lamaçal em que vivem.

Quando a lama chegar aos seus narizes será tarde e do escândalo brotará, tomara, um novo tempo, com os clubes organizados como empresas para poder fazer frente ao baile que levam de alemães e ingleses.

Porque cartas com exigências que se repetem há anos são apenas aquilo que Getúlio Vargas chamava de "guampadas de bois mansos".

RÉPLICAS

Andrés Sanchez replicou de novo.

Repita-se mais uma vez o já dito tantas vezes: suas críticas enriquecem o currículo do criticado.

No dia em que fizer um elogio será imediatamente processado.


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