Folha de S. Paulo


O auto-engano na CBF

Os herdeiros de Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, tricampeões da Copa do Mundo de Fraude, tentam resistir.

O presidente interino por 150 dias, Marcus Vicente, promete ficar até o fim do mandato, em 2019, do licenciado Nero, embora diga que o colega seja inocente, com o que não haveria motivo nem para o licenciamento nem muito menos para a interinidade.

A cartolagem nacional parece não ter entendido que há interesses muito maiores do que as formidáveis quantias que amealharam nas três últimas décadas ao seguir os ensinamentos do "capo dei capi" João Havelange.

Não apenas o FBI está no jogo como trata-se de salvar a Fifa, a exemplo do que anos atrás foi preciso fazer em relação ao COI.

Em bom português, o mundo do futebol foi varrido por um mar de lama do tamanho do que arrasou Mariana e o tsunami, que vem de fora, não será barrado pelas desmoralizadas, e podres, barragens nacionais.

É improvável que Fernando Sarney sobreviva na Fifa assim como é improvável que Marcus Vicente resista às lentes nacionais, irrelevante político capixaba que é.

Del Nero jurar inocência faz parte do enredo que aprendeu com políticos como Eduardo Azeredo, Eduardo Cunha e Delcídio do Amaral, para citar só um trio apanhado com a boca na botija.

Marcus Vicente revelar boas intenções lembra José Dirceu com seus fins e seus meios.

Mas acima deles todos está em questão a credibilidade do jogo e das marcas que o patrocinam.

Impossível que percam para ladrões de galinhas, com todo respeito, por mais que sejam galinhas de ovos de ouro.

Ricardo Teixeira se licenciou numa quinta-feira e renunciou na segunda-feira seguinte.

Nero também pediu licença numa quinta.

Amanhã, ninguém sabe, mas que está mais que na hora de a Procuradoria Geral da República, o Ministério Público, a Receita e a Polícia Federais entrarem de sola na quadrilha, isso está.

Chega! Basta! Fora!

A sociedade brasileira tem de dizer que não quer mais conviver com essa gente.

PROPINA$FUTEBOL

Jamil Chade lançou "Política, propina e futebol".

O livro conta o que levou a Fifa e a CBF a viverem suas maiores crises desde que foram fundadas.

É leitura obrigatória para quem quiser entender os escândalos que começam com João Havelange e não têm hora para acabar, por envolver a maioria dos cartolas mais importantes do mundo da bola, passando, é claro, pelos também brasileiros Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, assim como J.Hawilla e todos que com eles negociaram.

Chade contempla em capítulo especial o que foi a Copa do Mundo-2014 e todas as mentiras a seu respeito.

Encerrada há mais de um ano, o jornalista faz o correto balanço dos não legados do megaevento e projeta o panorama sombrio depois da festa da Olimpíada no Rio, pela repetição dos métodos.

Ao achar espaço para otimismo, Chade imagina que, ao menos, o Brasil não se deixará enganar uma quarta vez (sim, porque o Pan-2007 não foi diferente, observação que fica por conta do colunista).

Eis a única divergência com o autor.

Porque sempre haverá um Aldo Rebelo para engabelar os incautos.


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