Folha de S. Paulo


Só mesmo o futebol

QUE O FUTEBOL é o jogo mais espetacular do planeta a maioria sabe.

Que, tecnicamente, o Campeonato Brasileiro deste ano deixou a desejar o torcedor também está cansado de saber.

Houve muitos jogos bons, invariavelmente os que tiveram o Corinthians em campo, o Galo quando o campeonato começou, o Grêmio ali do meio para o fim e o Santos, na Vila Belmiro.

Não por acaso, os três primeiros disputarão a Libertadores e o quarto está a um empate, pela Copa do Brasil, para conseguir a vaga.

Mas outros três times podem chegar lá e, a rigor, nenhum merece.

O mais garantido é o São Paulo, com uma temporada pífia e com direito à humilhação, dentro e fora do campo.

Fora do gramado viveu a vergonha de ver seu presidente renunciar em meio a uma série de escândalos daqueles que pareciam ser exclusivos de seus concorrentes.

O sobrenome Aidar entra para a história do futebol paulista como entraram Dualib, Saccomani e Kodja.

Como reflexo, na temporada de despedida de Rogério Ceni, o Mito e seu maior ídolo, e de Luís Fabiano, o Fabuloso nem tanto, fiascos em cima de fiascos, trocas de técnicos como de namoradas na adolescência ou na terceira idade mal resolvida.

Apesar disso tudo, e jogando tão mal que o Morumbi chamou o time de "sem vergonha" anteontem, o Tricolor depende de um empate contra o Goiás no domingo que vem, no Serra Dourada, para entrar no torneio continental.

Sair na frente e levar a virada do desesperado Figueirense pareceu ser o epitáfio merecido para a campanha vexaminosa de 2015.

Mas o futebol é o futebol e é tão espetacular que tornou mais uma derrota vergonhosa em vitória sensacional, construída com dois gols nos acréscimos, graças a Alan Kardec e a Thiago Mendes.

Dessas vitórias que se obtidas em começo de temporada, quando o mau desempenho encontra justificativas, permitiriam sonhar com futuro promissor, graças ao empenho derradeiro.

Só que estamos no fim do ano e o triunfo, dramático, emocionante, comovente, menos que sonho, lembra o acordar de um pesadelo.

Também dependendo apenas de seu resultado na Copa do Brasil, depois de amanhã, em casa, o Palmeiras pode garantir um lugar na Libertadores.

É outro time que não merece, incapaz que foi de transformar o investimento feito em qualidade de jogo.

Pior ainda é a situação do Inter, outra vez favorito a tudo no começo de 2015 e agora na dependência de um tropeço do São Paulo, com uma vitória sobre o Cruzeiro, no Beira-Rio, para voltar à Libertadores da qual foi eliminado, como foram, antes, Corinthians, Galo, São Paulo e Cruzeiro –e levando um baile do mexicano Tigres na semifinal.

Esporte mais popular do mundo exatamente por ser o mais espetacular e surpreendente, o futebol é ainda o mais brincalhão com as emoções e previsões das pessoas.

Quem diria, aos 90 minutos regulamentares do jogo entre paulistas e catarinenses, quando o Figueirense ganhava por 2 a 1 do São Paulo, que o desfecho seria o que foi?

O que era para ser uma partida a ser esquecida, tornou-se inesquecível, cativante, extraordinária.

Como será extraordinário se o Vasco sobreviver na Série A.


Endereço da página: