Folha de S. Paulo


O novo velho Corinthians

Em tempos de Corinthians campeão, aplaudido como um time moderno que joga sem pressa e não deixa de ser rápido e eficaz, os méritos de Tite têm sido cantados em prosa e verso. É justo.

O treinador diz para quem quiser ouvir que seu trabalho se concentrou em fazer o time, e a torcida, se acostumarem com a ideia de que apenas ir no embalo da Fiel permitiria aos adversários explorar os espaços deixados por tal ímpeto e fazer gols na retaguarda corintiana.

Na passagem culminada com os títulos da Libertadores e do bicampeonato mundial a estratégia significou fazer poucos gols e sofrer menos ainda.

O time atual é diferente. Segue levando poucos gols e é generoso no ataque, correção de rumo que o técnico fez ao estudar como corrigir a deficiência ofensiva em seu período sabático.

O exuberante saldo de 37 gols fala por si, 63 a 26,em 34 jogos, embora ainda signifique média inferior a dois gols feitos por jogo, mas menos de um sofrido (1,8 a 0,7).

Em 2011, o título brasileiro, em 38 partidas, veio com 53 gols pró e 36 contra (1,4 a 0,9). Era um time mais competitivo que brilhante, mais de resultado que de arte.

Tudo isso para dizer que este novo Corinthians não é assim tão novo.

No período da Democracia Corinthiana quem fazia o discurso de Tite era o Doutor Sócrates. "A torcida tem que vir no nosso ritmo, não nós no dela", ele dizia para o time e, principalmente, para a Fiel.

"Com a bola conosco o gol sairá naturalmente", garantia, inicialmente sob desconfiança da massa.

Só que foi dando certo a tal ponto que dos quatro gols feitos contra Palmeiras e São Paulo nas finais que valeram o bicampeonato estadual, em 1983, dois só saíram na parte final dos segundos tempos e outros dois sempre depois dos 20 primeiros minutos de jogo, não por acaso todos feitos por ele.

A isto se chama inteligência, qualidade comum aos dois, Magrão e Tite.

Tite conseguiu montar nesta temporada um time tão equilibrado que venceu oito dos 17 jogos que fez fora de casa com seis empates.

Foram só duas derrotas em Porto Alegre para a dupla Gre-Nal e outra para o Santos, na Vila Belmiro, prejudicado pela arbitragem, como no empate em Curitiba, contra o Coritiba. Sim, também foi favorecido no empate contra o São Paulo, no Morumbi, e na vitória sobre o Fluminense, na Arena Corinthians.

Árbitros erram, jogadores também e técnicos mais ainda.

Tite tem sido exceção.

E tem tido a sorte necessária aos campeões.

Porque ontem, contra o Coritiba, a vitória por 2 a 1 veio muito mais no pulmão da Fiel do que no jogo do time, o pior no segundo turno do hexacampeão.

Ansioso diante da perspectiva do título antecipado e de um time paranaense naturalmente retrancado, Gil errou recuos de bola, Renato Augusto e Jadson erraram passes como nunca, e o Corinthians jogou mal, apesar de sair na frente com mais um gol de Jadson, outro de pênalti.

Mas Negueba empatou e só depois que Danilo e Lucca entraram em campo a vitória veio, desvio de cabeça do primeiro, gol do segundo, graças à inspiração do treinador que viu seu moderno Corinthians jogar como muito antigamente, antes mesmo do Doutor.


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