Folha de S. Paulo


Viagem desclassificada

José Maria Marin está prestes a ser enfiado num avião para fazer a mais angustiante travessia do Atlântico de sua longa vida de mais de 83 anos.

Extraditado pela Justiça suíça para os Estados Unidos, voará de Zurique a Nova York, espera-se, sem algemas, por desnecessárias, apesar de o FBI informar que será com. E na classe econômica, o que é até sorte para quem poderia estar num simples camburão.

Na cidade que nunca dorme, Marin tentará ir para o conforto de seu apartamento na ostentatória Trump Tower, luxuoso edifício de 58 andares, na 5ª Avenida, 725. O apartamento 41-D é dele desde 1989, embora tenha omitido a propriedade em sua declaração de bens quando se candidatou ao senado nas eleições de 2002.

O apartamento está em nome de uma empresa com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas e vale US$ 2,5 milhões

Se conseguir, não sem antes dar uma garantia de US$ 10 milhões, poderá dormir não exatamente em sua cama predileta, a de São Paulo, onde mora também num prédio tão luxuoso que é chamado de Gaiola de Ouro, no Jardim Paulista.

Não dá para sentir pena, porque Marin não se limitou a enriquecer seja como cartola do futebol ou como governador biônico de São Paulo nos tempos da ditadura que serviu com tanto empenho.

Espera-se de quem não teve pudor de endossar denúncias falsas contra o jornalismo da TV Cultura que culminaram com a morte de Vladimir Herzog, exatamente 40 anos atrás, agora dê nome aos bois que foram seus parceiros para ficar milionário.

E que sirva de exemplo para cartolagem.

BIOGRAFIA

Está em curso o que deverá ser, enfim, uma excelente biografia do Doutor Sócrates.

Quem se encarrega dela é o jornalista escocês Andrew Downie, há mais de 25 anos na América, primeiramente no México, depois no Haiti e há 16 anos no Brasil, onde trabalha ou trabalhou para a Agência Reuters, The New York Times, The Guardian, Time, The Economist, The Financial Times etc.

Biógrafo como devem ser os biógrafos, Downie acaba de chegar de Firenze, onde buscou histórias e mais histórias da turbulenta passagem do Magrão por lá.

Ribeirão Preto, a cidade que viu Sócrates crescer e aparecer para o mundo já lhe é tão familiar como uma cidade escocesa e dele se pode esperar um livro que mergulhe fundo na metamorfose ambulante que o ídolo corintiano sempre foi.

Um problema: ele está contratado para fazer a biografia em inglês. Trata-se de convencer sua editora a publicá-la também em português.

FICÇÃO

Por falar em livros, Arthur Dapieve escreve bem pra chuchu. E acaba de lançar, pelo selo Alfaguara, da editora Objetiva, o livro de contos "Maracanazo e outras histórias" que não tem quase nada a ver com 1950, mas tudo a ver com os encontros que a vida proporciona, no caso, no Maracanã, na Copa do Mundo, entre um espanhol e uma brasileira descendente de pais chilenos, ele estudante de Medicina em Madrid, ela estudante de Sociologia no Rio.

São 76 páginas deliciosas no conto que encerra o livro com outras quatro histórias de rock, música clássica, Rio de Janeiro, Copacabana, ficção e realidade que se misturam na pena de um autor maduro.


Endereço da página:

Links no texto: