Folha de S. Paulo


O pecador se confessa

Deveria causar grande alegria a quem sempre denunciou o submundo do futebol que toda a podridão seja revelada como o FBI está a proporcionar.

Deveria, mas não causa.

Causa, em primeiro lugar, vergonha constatar que nós, brasileiros, convivemos com tal estado de coisas por anos a fio, ou melhor, por décadas, sem que as autoridades nacionais, da polícia ao judiciário, tomassem providências.

Ao contrário, não poucas vezes foram cúmplices e protegeram os meliantes.

Em segundo lugar, dá raiva.

A raiva de ver em inglês muito do que se ouviu e publicou em português, como se fosse grego.

J. Hawilla diz estar arrependido e pede desculpas.

No arrependimento é possível crer, mas num arrependimento diferente daquele das pessoas decentes que erram.

O arrependimento do maior corruptor do futebol das Américas é por não ter sabido parar. É por ter escolhido um comparsa, outro, mais um e mais outro, até ser pego.

As desculpas ele deve aos seus e aos que está traindo.

Quem ouviu um dia dele que o jogo é jogado e é sujo não desculpa nem se arrepende de ter exercido a marcação cerrada que ele mereceu.

Quem um dia disse a ele que era estranho seu súbito enriquecimento apenas comprova o que sempre soube.

Ou quem um dia soube dele, ainda nos anos 1990, que tinha de acordar cedo, antes de seus filhos, para pegar esta Folha e evitar que eles lessem uma certa coluna no caderno de Esporte, não se surpreende com nenhuma revelação que o FBI possa fazer e que o incrimine ainda mais assim como a seus parceiros.

Basta, aliás, dar um Google nas imagens dele para verificar quem o cerca nos convescotes, com as raras exceções de alguns inocentes úteis.

Que a Fifa se exploda é uma questão internacional da qual os juízes suíços certamente saberão tratar.

Em nosso quintal são outros 500.

A esmagadora maioria dos cartolas e seus apaniguados que aí está não é digna que se compre dela um carro usado –também com as exceções de praxe, de gente que quer mudar o estado de coisas que nos assola, embora ninguém da CBF, registre-se.

Em meio ao mar de lama e depois do 7 a 1, jamais o futebol brasileiro teve chance tão grande de recomeçar do zero, com a casa limpa, sem os acordos pornográficos que vemos na política.

Para tanto, será necessário que as grandes empresas envolvidas com o futebol tenham coragem e espírito cidadão, além de tino comercial, para fazerem a necessária renovação que o século 21 está a exigir lá se vão 15 anos.

J. Hawilla, então, terá motivos de sobra para se arrepender, com tornozeleira eletrônica ou sem, ao constatar que poderia ter enriquecido honestamente.

ZICO ESCLARECE

Diferentemente do escrito aqui na quinta-feira, Zico esclarece, em telefonema da Índia, que não indicou Bernard Rajzman para seu lugar na Secretaria de Esporte do governo Collor.

Explica que por Collor saber que ambos eram amigos, tratou de substituí-lo pelo ex-jogador de vôlei.


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