Folha de S. Paulo


Acorda a pedraria adormecida

Nós, os paulistas, não somos chegados a exaltar o Estado, talvez por arrogância, um certo complexo de superioridade, tirante, é claro, os quatrocentões, estes sim, embora em extinção, são duros de aguentar.

O paulista é tão seguro da sua importância que faz tempo deixou de discutir banalidades.

São Paulo nem sequer tem uma canção para seu hino oficial, do poeta Guilherme de Almeida, de cuja letra foi tirado o título da coluna.

Sim, o futebol de São Paulo acordou após passar os dois últimos anos a ver navios, ou melhor, a ver o Cruzeiro ser bi brasileiro, Flamengo e Galo ganharem Copas do Brasil, em finais sem paulistas que, também, não jogaram a Libertadores de 2014 e fracassaram na deste ano.

Aliás, o eixo Rio-São Paulo, o "eixo do mal" para o chororô dos que sofrem de outros complexos, os de inferioridade e perseguição, andou apanhando coisa que sirva, que o digam os dois 4 a 1 aplicados pelo Galo em Corinthians e Flamengo em 2014.

Eis que, enfim, o futebol paulista dá a volta por cima, como compôs o imortal Paulo Vanzolini, com letra e música: tem três de seus grandes nas semifinais da Copa do Brasil, outro liderando o Brasileirão com certa folga e a Ponte Preta na primeira página do campeonato, em 9º lugar.

Palmeiras, Santos e São Paulo, por sinal, não se limitam a ser semifinalistas da Copa do Brasil pois ainda disputam lugar no G4 do Brasileirão.

Daí a rara leitora e o raro leitor perguntarão, com razão: o que mudou?

Nada, infelizmente. Nadica de nada.

O líder Corinthians deve a seus jogadores, estes, além de Tite, merecedores de todos os elogios, porque trabalhar sem receber ninguém merece.

A área de fisiologia é outra digna de aplausos porque conseguiu fazer de Renato Augusto o melhor do campeonato, mas a direção alvinegra não é modelo para coisa alguma.

Muito menos é a do São Paulo, cujo presidente consegue ser uma caricatura de si mesmo, digno de fazer parte dos Trapalhões.

No Palmeiras temos um mecenas na presidência e no Santos tem sido preciso recorrer a outro mecenas, que já presidiu o clube, para sobreviver, embora seja de tirar o chapéu o trabalho nas categorias de base, que não para de revelar talentos.

Caberá ao Fluminense furar a bolha paulista na Copa do Brasil, tarefa árdua, primeiro contra o Palmeiras e depois, se houver depois, contra quem vencer o San-São.

Desnecessário dizer que em mata-mata tudo é possível, daí ser mais difícil a missão de Galo e Grêmio em tentar pegar o Corinthians, que hoje tem o complicado desafio de enfrentar a Ponte Preta, em Campinas.

Lembremos apenas, aos que, além do mais, gostam de uma teoria da conspiração, que não há parceria entre times do mesmo Estado.

Não há entre Corinthians e Ponte como não existe entre Galo e Cruzeiro ou Inter e Grêmio.

O que há é que os times paulistas estão melhores. Só.


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