Folha de S. Paulo


Dizer não à seleção

Uma rápida pesquisa e você verá quase uma centena de jogadores brasileiros naturalizados para jogar em seleções estrangeiras, a maior parte deles composta por atletas desconhecidos, muitos em busca de melhor sorte na Guiné Equatorial ou no Timor-Leste.

Nunca será demais lembrar o primeiro jogador brasileiro campeão mundial, Anfilogino Guarisi, o exímio ponta direita Filó, vencedor, pela Itália, da Copa do Mundo de 1934.

Ele era descendente de italianos assim como José Altafini, o nosso Mazzola, campeão mundial em 1958 pelo Brasil e defensor das cores italianas na Copa seguinte, pois assim era permitido.

Deixou de ser e o exemplo mais sentido pelo futebol nacional foi o caso do centroavante Diego Costa, que fez muita falta à seleção brasileira ao jogar, naturalizado, pela espanhola na última Copa.

Em regra, quando se trata de jogador com qualidade suficiente para estar no time canarinho, a opção por outra seleção se dá em função de uma análise feita pelo próprio atleta preterido em convocações, casos de Marcos Sena e de Deco, para citar apenas dois que também adotaram outras nacionalidades e jogaram pela Espanha e por Portugal, além do já citado Diego Costa.

A decisão de Rafinha, aos 30 anos, completados, por ironia, dia 7 de setembro, pode ser vista como outra com o mesmo sentido, embora nada o garanta no esquadrão da Alemanha.

Mas não deve ser descartada uma visão mais realista de quem está tão bem e há dez anos jogando na Europa.

Seu grito de independência da seleção do Brasil, mesmo sem eventualmente poder amanhã defender a germânica por já ter disputado uma Copa do Mundo sub-20 pela CBF, revela a idêntica falta de vínculo também do torcedor, tantas as barbaridades recentes cometidas pela entidade responsável pela convocação.

Quando, por exemplo, Romário acusa a seleção de atender aos interesses de empresários, por mais que Dunga, indignado, exija as impossíveis provas, o mundo do futebol sabe: o experiente ex-craque e atual senador não tirou de sua cabeça a denúncia. Daí usar da imunidade parlamentar para afirmar o que, de verdade, é segredo de Polichinelo.

Sobretudo porque o coordenador da seleção, Gilmar Rinaldi, empresariou atletas mesmo depois de prometer não mais fazê-lo, quando virou cartola no Flamengo, segundo conta o insuspeito Zico.

Tudo isso somado, como fica a cabeça de um atleta há uma década fora do país, jamais prioridade de técnico algum da CBF apesar do sucesso permanente na Alemanha, ao ler e ouvir as coisas que lê e ouve sobre a CBF e que, ainda por cima, joga no país que festejou o surrealista 7 a 1 do Mineirão?

De origem humilde em Londrina, casado, pai de duas filhas, não é difícil imaginá-lo, depois de ter conversado com a mulher, com os companheiros campeoníssimos do Bayern de Munique e com o guru Pep Guardiola, resolvido a ficar quieto em seu canto, onde tudo dá certo.

Você faria diferente?


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