Folha de S. Paulo


Dez anos e nada

Uma década passa rapidamente e pode ser perdida como estamos cansados de saber no Brasil.

A vivida entre a denúncia de arbitragens que manipulavam resultados para favorecer apostadores, conhecida como "Máfia do Apito" é mais uma sem ganhos.

De lá, quando mentir era habitual na CBF, para cá, nada de consistente se fez para melhorar o padrão da arbitragem nacional. Nem sequer foram estabelecidas normas que evitassem que árbitros mentissem na súmula, como se viu no jogo entre Corinthians e Santos.

A mentira talvez seja o mais danoso dos vícios. Mente-se para chegar ao poder, para se manter no poder, para derrubar quem está no poder, para ganhar um jogo, para perdê-lo, e se torce, muito, para a mentira só ser descoberta depois de já ter atingido seus objetivos.

Giba confirmou o que todo mundo já sabia em relação à entregada do jogo para a Bulgária no Mundial de vôlei de 2010, na Itália.

Há quem argumente que o sexteto brasileiro não jogou para perder aquele jogo, mas para ganhar o campeonato, o que acabou por acontecer.

"Briguem com o regulamento, não briguem com a gente", apelou Giba.

O que mais incomodou no episódio foi a mentira, porque se, antes do jogo, fosse dito, com todas as letras, que se tratava de uma partida sem interesse para o Brasil e que portanto seria jogada com os reservas, escândalo algum teria acontecido.

As críticas todas seriam para o regulamento mesmo.

Não é possível que políticos, esportistas, jornalistas, não percebam que as pessoas estão por aqui com as mentiras e que a atual vigilância desmascara os cínicos com incrível rapidez.

O árbitro que quis guerrear contra a verdade em Itaquera foi desmascarado no exato momento em que sua súmula tornou-se pública, numa ofensa à inteligência alheia assim como a negativa da marmelada no vôlei.

Em 2005, pega com a boca na botija, a arbitragem foi condenada, o apitador excluído (ele já havia sido denunciado por falsificar seu diploma colegial para poder ser árbitro, e mesmo assim seguiu na carreira na FPF de Del Nero) e 11 jogos refeitos, o que causou grave prejuízo ao Brasileirão daquele ano, que acabou vencido pelo Corinthians da famigerada MSI, aparentemente inocente neste caso, embora só neste, porque agente de claro doping financeiro então.

Por coincidência, o assessor de imprensa da empresa alimentada pela máfia russa era o mesmo que atualmente assessora a CBF.

É dessas similitudes que o povo anda cheio, de ser tratado feito idiota, de alguém se achar mais esperto que a esperteza e imaginar que engana quem está do outro lado da mesa.

Se Flavio Guerra, o que guerreou contra os fatos, tivesse se limitado a dizer que não viu o pênalti, que quem o alertou foi o bandeirinha, que este não identificou o autor, tudo teria acabado ali e a confusão provavelmente atribuída ao calor sufocante das 12h45 em Itaquera.

Mas não. Ele preferiu mentir. Como se mentia há 10 anos.


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