Folha de S. Paulo


A Fifa por um fio

FOI-SE o penúltimo da gangue que, desde João Havelange, em 1974, assaltou o futebol mundial.

Jérôme Valcke, o arrogante francês ex-secretário da Fifa, braço direito do cadáver insepulto Joseph Blatter e que sairia com o chefe em fevereiro do ano que vem, vive despedida antecipada por denúncia inapelável, documentada por sua própria correspondência com o denunciante.

Desde o começo deste já nem tão novo século que se sabe quem Valcke é, tachado de litigante de má fé pela Justiça de Nova York por ocasião da ação movida e ganha pela Mastercard contra a Fifa, que rompera, em plena vigência, Valcke como diretor de marketing, o contrato que mantinham, trocado pela Visa.

Tamanho foi o prejuízo causado à Fifa por não obedecer o direito de preferência do patrocinador original, algo em torno de US$ 60 milhões, que ele teve de sair da entidade.

Voltou em seguida, ainda mais forte, como segundo homem, por ser um arquivo vivo que Blatter não poderia desagradar definitivamente.

É de então uma frase sua que ficou famosa: "Eu sinto que estou limpo. Eu não tenho a sensação de que sejamos tão sujos."

De lá para cá não há ação nebulosa da Fifa sem seu envolvimento, desde propinas pagas aos cartolas da África do Sul para a Copa de 2010 até as declarações sempre desastradas que o puseram no folclore imundo do futebol mundial.

"Chutar o traseiro do Brasil" foi das mais suaves para quem admitiu, por escrito num e-mail, que "eles compraram a Copa de 2022", referência aos cataris.

Íntimo de Ricardo Teixeira a ponto de fazer famosa também a imagem do beijo que tascou no ex-cartolão da CBF, tendo o inocente Pão de Açúcar ao fundo, Valcke agora se junta ao amigo brasileiro e ao catalão, Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, os três em desgraça, mas suficientemente ricos para gozarem invejável ostracismo.

A não ser que a mão pesada da Justiça dê a eles o destino de José Maria Marin que Marco Polo Del Nero tanto teme.

Como a CBF, a Fifa precisará ser refundada sob pena de perder patrocinadores e botar mais em risco a já abalada credibilidade do futebol.

Tanto lá como cá será preciso que haja mudanças estruturais radicais para que não continue a dança de trocar seis por meia dúzia e misturar farinhas do mesmo saco.

Nada indica que o favorito para suceder Blatter, Michel Platini, seja capaz disso, até por ter votado no Qatar, numa nebulosa negociação denunciada fartamente pela tradicional revista "France Football".

Não é só o governo brasileiro que está numa dramática enrascada por causa de corrupção.

Além da CBF, a Fifa também procura desesperadamente uma saída. Mas o poço parece não ter fundo.

OPOSTOS

Alexandre Pato não tem mesmo por que estar na seleção brasileira agora. Quem sabe no futuro?

Ricardo Oliveira tem tudo para estar na seleção, mas só agora. O futuro dele já chegou. E brilha.


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