Folha de S. Paulo


Fique de olho no apito

Carlinhos Vergueiro fez a música que diz:

"Fique de olho no apito,
Que o jogo é na raça
E uma luta se ganha no grito.
E se o juiz apelar,
Não deixe barato,
Ele é igual a você e não pode roubar".

Não pode roubar mesmo, e quase sempre não rouba, apesar de o Brasil já ter sido sacudido por diversos escândalos que envolviam o apito, como os da "Máfia da Loteria Esportiva", em 1982, o "Caso Ivens Mendes", em 1997, e o "Caso Edílson Pereira de Carvalho", em 2005.

Todos capazes de permitir que o torcedor desconfie de coisas urdidas pelos que comandam a CBF, uma entidade tão opaca que nem coragem tem de publicar seu estatuto, embora seja possível achá-los nos sítios de busca da internet.

Na miséria do exercício do poder no futebol, em que a escala de arbitragens tem peso decisivo, nega-se o avanço da arbitragem eletrônica e recusa-se a independência do departamento de árbitros, sem o que sempre se poderá desconfiar de manipulação.

Não que um expediente ou o outro resolvam 100% dos erros, algo impossível, mas certamente seriam minimizadores dos equívocos e aliados contra as teorias da conspiração.

Em vez de lutar por tais bandeiras, os apitadores, que se não fizeram a política das entidades que os submetem jamais chegarão ao quadro da Fifa, botam o carro adiante dos bois e reivindicam direitos de arena apesar de serem responsáveis, frequentemente, por incendiá-las.

Descontada a óbvia covardia de submetê-los à comparação do olhar das câmeras de TV, os apitadores fazem o papel de vilões, engrossado pelo autoritarismo que, em regra, os caracteriza, futebolistas frustrados que concorrem com os jogadores como verdadeiros astros do espetáculo. Masoquistas, parecem gostar de serem xingados e fazem questão de aparecer, mesmo que seja axioma do futebol que o bom árbitro é o que passa despercebido ao cabo de 90 minutos do jogo.

Quando o Estatuto do Torcedor, em 2003, estabeleceu o sorteio dos árbitros, hoje em revisão, a ideia era eliminar suspeitas de manipulação.

Sabia-se que não era a solução ideal, que deveria ser dada pela meritocracia, significa dizer, os melhores árbitros nos jogos mais importantes, mas foi o caminho encontrado para evitar a escalações desonestas e desconfianças generalizadas.

Como sói acontecer no Brasil, logo se achou um jeitinho para de alguma maneira dirigir os sorteios ou desmoralizá-los.

Se não se adotar pelo planeta afora o auxílio da tecnologia no futebol, como se faz em tantos outros esportes, e não se der independência aos departamentos de árbitros, sempre haverá quem veja corrupção, ainda mais agora neste mundo globalizado também pelas apostas online.

COINCIDÊNCIAS

Disse o Palmeiras em nota oficial: "Confiamos na idoneidade dos árbitros (...)".

Seria lindo não fosse feita pela assessoria de imprensa do clube que tem como dono o diretor de comunicação da CBF.


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