Folha de S. Paulo


Por que eles não param?

Entre tantas dúvidas a assolar nossas pobres cabeças, há uma recorrente: não há limite para a ganância?

Por que gente milionária quer sempre mais e mais dinheiro?

Porque buscar mais poder é compreensível e aí estão as seguidas reeleições no esporte brasileiro para demonstrar. Mas dinheiro, depois de um certo ponto, para quê? Jantará duas vezes ao dia?

Alguém dirá não se tratar de ganância, mas apenas de ambição para fazer a roda do capitalismo girar.

Daí um Bill Gates não parar ou um Steve Jobs só ser parado pela morte.

Não são eles, nem tantos outros empreendedores, que despertam a pergunta sobre limites.

Trato de figuras menos nobres, não admiráveis, que vieram ao mundo apenas para enriquecer, por quaisquer meios, desonestos se necessário, anti-éticos, "espertos", às vezes disfarçados em causas humanitárias, na maior parte voltadas para os próprios umbigos.

Eis uma lista limitada, por ordem alfabética, com alguns cuja ganância levou à desgraça, se não financeira, mas moral, além até da perda do mais precioso dos bens, a liberdade.

Eduardo Azeredo, Fernando Collor, José Dirceu, José Maria Marin, Ricardo Teixeira e Paulo Maluf.

O primeiro teve de renunciar ao mandato de deputado.

O segundo perdeu a presidência da República.

O terceiro a liberdade e o respeito de toda uma geração.

O quarto está preso na Suíça, aos 83 anos.

O quinto vaga por aí feito um morto vivo, rico, abandonado e amedrontado.

O sexto também sentiu o gosto da prisão, mas como não é o terceiro, logo saiu.

Terá compensado?

Não dava para ter parado antes de ficar evidente que os meios eram ilícitos e tornar as punições inevitáveis?

Pouco me lixo para Azeredo, Collor, Marin, Teixeira e Maluf, mas a revelação de que Dirceu obrava em causa própria, embora não surpreendente, é dessas que, preto no branco, deprimem.

Deprime quem, apesar de equivocado, em busca de outra ditadura, a do proletariado, achou que um dia libertaria o Brasil pelas armas depois do golpe de 1964.

Deprime quem viu Zé Dirceu com a camisa ensanguentada do estudante morto por bala atirada pela direita na "Batalha da Maria Antônia", entre estudantes da USP e do Mackenzie.

Impossível não lembrar de Nabi Abi Chedid, já falecido, que presidiu a Federação Paulista de Futebol, foi vice, com muito poder, da CBF e deputado em São Paulo.

Homem de direita, de moral, digamos assim em respeito à sua memória, absolutamente complacente e elástica, pragmático ao extremo, um dia me encontrou no aeroporto de Congonhas, logo depois que o "mensalão" veio à luz e cobrou: "Não te disse que no poder todos ficam iguais?".

Pego de surpresa, reagi ingenuamente:"Não justifica, mas pelo menos não é para enriquecimento pessoal".

Ele abriu um sorriso largo, quase sedutor, e contra-atacou: "Não se engane, você vai quebrar a cara".

Collor, Marin, Teixeira, Maluf, jamais me enganaram.

O Zé sim. E como!

É imperdoável.


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