Folha de S. Paulo


A Europa quer a Fifa

DESDE QUE surgiu, em 1904, a Fifa teve oito presidentes. Sete deles europeus e o brasileiro João Havelange, batizado Jean-Marie Faustin Goedefroid Havelange, filho de pai belga.

Três ingleses, dois franceses, um belga mesmo e um suíço, além do brasileiro, presidiram a entidade que se orgulha de ter mais filiados que a ONU e não se orgulha de ter mais escândalos que a Uefa, a União Europeia de Futebol.

Verdade que em mais da metade dos seus 111 anos a Fifa esteve apenas em quatro mãos –as do francês Jules Rimet, que a comandou por 33 anos, e as de Havelange, por 24 anos.

O brasileiro, valendo-se da figura de Pelé na África, tomou a entidade do inglês Stanley Rous, que a dirigia havia 13 anos, numa eleição que surpreendeu o mundo da bola em 1974.

Era o fim do eurocentrismo que caracterizava a Fifa e nem mesmo a chegada do suíço Joseph Blatter para suceder o brasileiro mudou tal estado de coisas, de olho nos colégios eleitorais da Ásia e da África.

São 209 os países que votam e quase a metade nos dois continentes –56 africanos e 46 asiáticos.

Ao se lançar candidato, Michel Platini não dirá abertamente, mas tem na cabeça o modelo da Uefa que preside com sucesso.

Contra ele há o embaraçoso episódio do voto francês pela Copa do Mundo no Qatar, opção que não tem desculpa e apenas uma explicação: dinheiro. Muito dinheiro. Favores. Muitos favores.

Fato é que, em seguida ao voto, qataris compraram o Paris Saint-Germain e um filho de Platini, Laurent, foi trabalhar em empresa de marketing esportivo do Qatar, a Burrda, uma Traffic de lá.

Platini nega e argumenta que seu apoio foi transparente.

Seja como for, e muito cá entre nós, se a Fifa se transformasse numa Uefa, tarefa hercúlea, o futebol só teria a ganhar.

Em 1998, quando a disputa para presidir a Fifa se deu entre o sueco Lennart Johansson, então presidente da Uefa, e Joseph Blatter, secretário geral da Fifa e apoiado por Havelange, Paris foi palco de um espetáculo deprimente, com a candidatura da situação comprando votos abertamente, até com envelopes de dinheiro passados por baixo das portas do hotel onde se hospedou a cartolagem mundial.

Ali, fosse o sueco eleito, um homem de bem, e o futebol mundial teria sido poupado da sucessão de escândalos que o abala de tempos em tempos.

Os métodos de Havelange na CBD, herdados por seu ex-genro Ricardo Teixeira, fizeram escola pelo mundo afora e chegamos à situação de hoje.

Há controvérsias se Platini é o homem certo para fazer a limpeza.

Já o sul-coreano Chung Mong-joon se fizer da Fifa o que seu pai e ele fizeram da Hyundai fará bastante. Podre de rico, roubar não vai.

Sua sacada ao dizer que Blatter come os pais e se queixa de ser órfão foi antológica.

ELIMINATÓRIAS

A seleção pentacampeã mundial em 2002 perdeu seis jogos nas eliminatórias. Três vezes com Felipão e não os seis como permite entender a coluna passada.


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