Folha de S. Paulo


Como era gostoso ser respeitado

VINTE E QUATRO anos depois aconteceu novamente: dois anos consecutivos sem times brasileiros na decisão do torneio continental.

Ano passado, os argentinos do San Lorenzo disputaram a finalíssima com os paraguaios do Nacional. Neste ano será a vez dos argentinos do River Plate e mexicanos do Tigres.

Em 1990, foram os paraguaios do Olimpia e os equatorianos do Barcelona. No ano seguinte, os chilenos do Colo-Colo e, novamente, os paraguaios do Olimpia.

Não seria tão grave, e poderíamos argumentar que Inter, Santos, Corinthians e Galo levantaram a taça em 2010/11/12 e 13, não fosse por um detalhe que pode ser mais do que uma coincidência.

Em 1990, tivemos a triste seleção brasileira de Sebastião Lazaroni e o fiasco na Copa do Mundo, disputada na Itália. Claro, a derrota para a Argentina por 1 a 0, embora ainda nas oitavas de final, foi muito menos traumática que a goleada alemã nas semifinais da Copa passada.

Mas os dois anos seguidos de ausência na final da Libertadores lá atrás, como agora, têm a ver com a perda do respeito dos adversários pelo nosso futebol.

Pior agora, muito pior que então, quando, não só não dávamos tanto valor à Libertadores, como houve o tetracampeonato mundial em 1994, nos Estados Unidos.

Hoje, é impensável o hexa na Rússia, em 2018.

Por mais otimistas que tentemos ser ao saudar o espasmo havido na última rodada do Brasileirão, com média de 25 mil pagantes por jogo, não adianta tapar o sol com a peneira.

Sim, tinha a estreia de Guerrero e a apresentação de Ronaldinho Gaúcho no Maracanã, o belo time do Sport na Arena Pernambuco e os bem sucedidos planos de sócios torcedores nos estádios do Palmeiras e do Corinthians, todos com mais de 30 mil torcedores –alguns com mais de 40 mil, como os rubro-negros no Rio e no Recife. Além do motivante equilíbrio do campeonato.

Só que equilíbrio só é pouco. Pode garantir emoção aqui e ali, estimular o espírito competitivo cá e acolá, mas o rival estrangeiro não está nem aí para isso, apenas constata a pobreza técnica e parte para cima como partiu o Tigres para fazer picadinho do impotente Inter.

Temos hoje em dia um futebol combalido e desamparado.

Desnecessário lembrar da recente eliminação, nas quartas de final, pelo Paraguai, na Copa América disputada no Chile e pelo Chile vencida.

A CBF anunciou que a seleção jogará em setembro nos Estados Unidos, contra o time de Tio Sam.

Encontro interessante entre os brasileiros eliminados pelos paraguaios e os americanos que, em casa, na Copa Ouro, foram dela alijados pelos surpreendentes jamaicanos. Ah, o equilíbrio!

Como você, o cartola da CBF verá o amistoso pela TV.

Pisar no Gillette Stadium, pertinho de Boston, nem pensar e não porque tema cortar os pés, mas por temer algemas nos pulsos.

O desrespeito começa aí.

O presidente da CBF virou chacota.

"Problema dele", disse até o renunciante Joseph Blatter.


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