Folha de S. Paulo


O Profut e a CPI

O editorial desta Folha, anteontem, "Gol da modernização", traduziu o significado da nova lei sobre o futebol, chamada de Profut.

Avançou-se, embora menos do que seria o ideal. Se o ótimo é inimigo do bom, o bom, no caso, poderia ser melhor, se fosse além das conquistas do Bom Senso FC, movimento que se fortalece com a vitória que obteve, e democratizasse para valer a arcaica superestrutura do futebol brasileiro.

Em vez do 7 a 1 virar um 7 a 7, como seria desejável, ficamos no 7 a 4.

Menos mal que não são poucos os parlamentares nas duas casas do Congresso Nacional que estão dispostos a aprofundar as conquistas, apresentando projetos de lei para fazer novos gols, casos do deputado carioca e tucano Otávio Leite, relator do Profut, e de alguns senadores que se manifestaram no mesmo sentido.

Já a CPI que será comandada pela dupla Romário&Romero não desperta tanta esperança.

O Baixinho a presidirá e Romero Jucá a relatará, ambos preocupados em poupar Fernando Sarney, um dos vice-presidentes da CBF.

O alvo será, essencialmente, Marco Polo Del Nero que, por dessas ironias, se tiver que renunciar, gostaria de ver exatamente o filho de José Sarney, a quem Jucá obedece, em seu lugar.

Como Nero não é Cunha, não conseguiu mudar o estatuto da CBF para tal.

CAMPO DE JOGO

Entra em cartaz no dia 23, em diversas salas pelo país afora, o filme "Campo de Jogo", de Eryk Rocha.

Em São Paulo, no Espaço Itaú de Cinema do Shopping Frei Caneca.

Não é exatamente um filme, ou melhor, é mais que um filme, é uma poesia sobre futebol.

Retrata com imagens pouco vistas nas telas o campeonato de favelas do Rio de Janeiro.

Esqueça o discurso de que é um filme sobre o verdadeiro futebol. Mas saiba que ao vê-lo você não apenas entenderá por que o futebol desperta tanta paixão. Mais: você sentirá por quê.

Rocha, 37 anos, filho de Glauber, é craque também.

Com poucas palavras e imagens deslumbrantes, põe o espectador dentro do campo de terra e o faz sentir o cheiro e o gosto do pó.

Transforma a sala escura em arquibancada e faz você torcer pelo Geração ou pelo Juventude, os times que disputam a final, nos pênaltis, para aumentar a dramaticidade.

Melhor: faz você torcer ora por um, ora por outro, até pelo juiz.

De quebra, dá um banho de Brasil, num campinho cercado por favelas, no bairro Sampaio, a poucos quilômetros do Maracanã onde, concomitantemente, se disputava a 20ª Copa do Mundo, megaevento proibido aos protagonistas do documentário, do drama, da epopeia que Rocha transforma em poema e homenagem às raízes da mestiçagem que, um dia, fez do nosso futebol o melhor do mundo.

"Impressionantemente filmado e maravilhosamente editado para capturar o ritmo do jogo", resumiu a "Variety", a mais que centenária revista americana sobre cinema.

Não precisa acreditar no que você lê aqui. Veja com seus próprios olhos no cinema.

Tostão enlouquecerá ao ver.


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