Bobagem imaginar que as pessoas se enganam com movimentos para driblar os incautos.
No xadrez da luta pelo poder na CBF, as peças se movem mais rapidamente do que a cena aparenta e o tabuleiro é feito de areia movediça.
Enquanto no mundo exterior, incontrolável porque o FBI é o FBI e o Ministério Público Federal não está para brincadeiras ao fazer da colaboração entre ambos uma investigação atrás da outra, embora cercada de cuidados e sigilos, no mundo interior, a situação beira o insustentável.
A Globo, por exemplo, deu um ultimato a Marco Polo Del Nero, na segunda-feira passada, na voz de seu porta-voz Galvão Bueno: ou Del Nero viaja para representar o Brasil na reunião da Fifa, dia 20 deste mês, ou cai fora, por admitir que o medo de uma extradição fala mais alto que a sua representação.
Parece que a articulação política do secretário menor da Casa Bandida do Futebol, Walter Feldman, está dando com os burros n'água.
Enquanto ele recepcionava Mário Jorge Lobo Zagallo no ex-edifício José Maria Marin, na trincheira do "Bem, Amigos", o jogo era outro, muito mais pesado, objetivo e capaz de obter resultados.
Velhos aliados da cartolagem, profissionais da bajulação e do deslize, já não apitam o que apitavam e a solidão de Nero só faz crescer.
Mas sua mera substituição não mudará nada.
Sairá uma turma, assumirá outra –e se a do catarinense Delfim Peixoto, como manda o estatuto, leal a Marin pelo menos da boca da fora.
Há uma porção de indícios, em todas as áreas do país, de que o Brasil não será mais o mesmo depois de tanta turbulência, tantas crises, tantas denúncias e tantas prisões.
Embora não signifique necessariamente que mudará para melhor –a Itália pós-Mãos Limpas redundou em Silvio Berlusconi...–, é plausível a chance de que estejamos vivendo alguma coisa parecida com o que a Dinamarca um dia deve ter vivido.
Daí ser preciso trocar não apenas de homens, mas de estruturas que possam levar gente melhor aos postos de poder. De estruturas e de métodos, que permitam denunciar e prender não apenas um lado.
Governos, empresas de mídia, agências de propaganda, empreiteiras, a indústria do esporte, tudo anda precisando de sol, o melhor detergente que há.
Dado o xeque-mate, será imprescindível que os novos jogos comecem sob novas regras.
PROFUT
Mas a vida ainda é dura.
A bancada da CBF conseguiu transformar a MP do Futebol, do ponto de vista do Bom Senso FC, quase numa conquista meramente sindical, ao aprovar o fair play financeiro, mas ao estuprar quase todas as medidas que mexiam na estrutura de poder em nosso futebol.
Não se democratizou como se deveria e será preciso seguir na luta para mudar o funcionamento das entidades.
Enquanto o sistema eleitoral funcionar como funciona, serão eleitos Havelanges, Teixeiras, Marins e Neros, além dos cartolas predadores das federações estaduais.