Folha de S. Paulo


Argentinos campeones!

Os argentinos são os atuais campeões da Libertadores, da Copa Sul-Americana, são vice-campeões mundiais e, no mínimo, também vice da Copa América, embora favoritos a derrotar os anfitriões chilenos depois de amanhã no Estádio Nacional de Santiago.

E o que temos a aprender com eles?

Nada, rigorosamente nada em matéria de organização do futebol, pátria de Julio Grondona, o João Havelange deles, e dos barrabravas mais violentos e corruptos da América do Sul.

Temos a aprender com seus técnicos tamanha a hegemonia deles na Copa América, a ponto de correr a piada de que todas as seleções tinham técnicos argentinos, à exceção da Bolívia, que tinha um treinador nacional, e do Brasil, que não tinha técnico.

Temos a aprender a respeitá-los, sem dúvida, donos de uma escola tão talentosa quanto a nossa, com produção semelhante apesar de uma população que é 1/5 da brasileira.

Basta dizer que frequentemente há um argentino disputando o lugar de número 1 do mundo, seja Alfredo Di Stéfano, nos anos de 1950/60, seja Diego Armando Maradona, nos 1970/80/90, seja Lionel Messi neste século 21.

Enquanto vivemos uma seca de talentos, os platinos têm, além de Messi, jogadores como Mascherano, Carlitos Tevez, Higuaín, Aguero, Pastore, Di María, uma geração de dar inveja.

Jogadores que terão pela frente os animados, mas ansiosos chilenos, esperançosos, mas nervosos, confiantes, pero, com fama de amarelar na hora agá.

Fato é que, exceção feita à vitória contra a fragílima, fora da altitude de La Paz, Bolívia, os chilenos tiveram o domínio de seus jogos e muita dificuldade para transformá-lo em gols, além da vantagem de jogar nos mata-matas com 11 contra 10 diante do Uruguai e do Peru e ainda terem gol irregular validado pela arbitragem caseira.

Pode dar Chile? É claro que pode, porque no futebol tudo é possível, até mesmo ser eliminado duas vezes pelo Paraguai nos pênaltis e tomar de sete dos alemães sem ficar corado como não coraram os Marin$Nero&Feldman da vida.

Mesmo que dê Chile, e os argentinos sigam em sua saga de mais de duas décadas sem títulos, eles terão chegado às duas decisões dos dois torneios mais importantes que disputaram nos dois últimos anos, enquanto nós, brasileiros, ficamos em quarto num e nas quartas noutro.

Dizem que os brasileiros amam odiar os argentinos e que os argentinos odeiam amar os brasileiros.

Pois é de se temer que a situação se inverta porque, pelo menos em matéria de futebol, de jogo jogado, no gramado, cada vez mais somos nós que temos por que admirar Messi e companhia bela.

Com a genialidade que o caracteriza, Luis Fernando Verissimo escreveu certa vez, depois que Túlio, escandalosamente com a mão, empatou em 2 a 2 um Brasil x Argentina pela Copa América de 1995: "Contra a Argentina, mão é peito".

Pode ser.

Mas que eles andam com o peito muito mais estufado que o nosso ninguém discute.


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