Folha de S. Paulo


Copa opaca

Começa hoje para nós, brasileiros, a Copa América. Que um dia foi chamada de Campeonato Sul-Americano e que fazíamos questão de vencer, porque significava ganhar de uruguaios e argentinos.

Hoje a Copa América é mais ou menos como os campeonatos estaduais: vencer é obrigação e perder resulta em crise.

Esta Copa América no Chile, que não comove por aqui porque falamos português, tem tudo para ser muito interessante e tem quatro candidatos óbvios, além de um quinto que nunca pode ser descartado, exatamente a Celeste, a seleção do Uruguai.

Os anfitriões chilenos, vivendo um bom momento, são os segundos maiores favoritos, embora, até prova em contrário, país acostumado a terremotos, o Chile sempre trema na hora de decidir.

Em seguida, em terceiro lugar, vêm os colombianos de James Rodríguez e Falcao Garcia.

Em primeiro, pelo hábito, os brasileiros. Mas não só. Dez vitórias seguidas são marca para ser considerada que indica, no mínimo, uma equipe competitiva, por menos convincente que tenha sido a atuação contra Honduras.

Num patamar acima de todos os demais concorrentes está a Argentina de Lionel Messi, de Mascherano, de Carlitos Tevez, por incrível que pareça no banco, de Agüero, de Higuaín, de Di María.

Vice-campeões mundiais, com o vice-rei do futebol do planeta dizendo que chega ao Chile agora melhor do que chegou ao Brasil no ano passado, o favoritismo argentino no torneio é tão acentuado que chega a ser perigoso.

Até porque se há uma coisa de que Dunga gosta é aprontar para cima dos hermanos, sejam ou não favoritos, fruto talvez de ele não ter derrubado Diego Maradona na Copa do Mundo de 1990, na Itália, no lance que redundou no gol de Caniggia e na eliminação brasileira.

Lembremos que em 2007, também numa Copa América, mas na Venezuela, o time B do Brasil goleou a Argentina, com Riquelme, Messi e Tevez, por 3 a 0 na final, assim como em plena Rosario, nas eliminatórias para a Copa de 2010, a seleção brasileira venceu por 3 a 1 os hermanos dirigidos pelo técnico Diego Maradona.

A superioridade argentina agora, no entanto, parece ainda maior e será prudente ter isso em conta.

É fato que se os brasileiros voltarem campeões pela nona vez não haverá festa nas ruas nem recepção no aeroporto e o próprio Dunga dirá que importante é a Copa do Mundo e, por isso, todas as atenções devem se voltar para as eliminatórias.

Já se forem os argentinos os campeões, pela 15ª vez, empatando com os uruguaios, primeiros e últimos vencedores (1916 e 2011), restará aplaudi-los humildemente sem fazer disso motivo de crise.

A Copa América é o mais antigo torneio de seleções do mundo e está a tal ponto no olho do furacão que não terá a presença, por variados motivos, de figurinhas carimbadas da cartolagem internacional.

Uns por medo e outros porque já estão presos.

Aliás, a Copa América Especial, do centenário, em 2016 nos Estados Unidos, subiu no telhado.


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