Folha de S. Paulo


A metamorfose

SECRETÁRIO-GERAL da CBF, Walter Feldman se queixou na Câmara dos Deputados de que qualquer novo governo tem 100 dias de trégua e que a recém empossada "nova direção" da Casa Bandida não teve tal benefício.

Ele sabe, mas finge desconhecer, que a nova direção de nova só tem a maquiagem e que se costuma conceder o prazo para quem é democraticamente eleito, algo que passa longe do sistema que faz presidentes na entidade do 7 a 1.

Feldman é uma figura singular na vida pública nacional. Basta dizer que trocou o braço direito de Marina Silva, da "nova política", pelo de Marco Polo Del Nero, da velhíssima.

Sem se dizer que começou sua vida no PCdoB, passou pelo PMDB, PSDB, PSB e, antes da Rede, acabou nos braços de Gilberto Kassab que, generoso, o nomeou "Secretário Especial de Articulação em Grandes Eventos" em 2011, o que lhe permitiu desfrutar, por um semestre, das delícias de viver em Londres às vésperas da Olimpíada britânica.

A justificativa não poderia fazer mais sentido: beber a experiência do evento antes que os Jogos Olímpicos viessem para o Brasil. Afinal, Kassab era prefeito de São Paulo e a Olimpíada, no Rio...

E lá se foi Feldman, à custa dos impostos dos paulistanos, acumular experiências que, certamente, tem dividido com o CoRio-16.

Não satisfeito, agora no segundo escalão da CBF, pontifica sobre futebol, democracia e, é claro, como a imprensa deveria se comportar: "Nós não podemos viver num sistema de liberdade de imprensa onde a pena aplica visões equivocadas, sentadas numa polêmica permanente, contumaz, cega, crítica em relação a tudo o que se faz num modelo de direção que passa por um processo de transformação que será democrático, não virá através de medidas provisórias ou de leis", ensinou aos deputados presentes à audiência pública da Comissão de Esportes da Câmara que discutiu a medida provisória do futebol.

Feldman, agora regiamente pago pela milionária Casa Bandida, não quer críticas, nem MPs de um governo eleito, este sim, democraticamente, nem leis!

Quer, em resumo, que tudo permaneça como sempre e que acreditemos numa entidade que se desmoralizou por suas próprias mãos sujas e que Nero ora preside como legítimo herdeiro. Tim Maia, se vivo fosse, apelaria: Me dê motivo!".

Modestamente, este humilde escriba, alvo da nada santa indignação do neo-cartola em sua desmoralizante, e oportunista, cantilena, vai além, para deixar o apelo ainda mais claro: dê apenas um motivo para acreditar que não mudaram apenas as moscas?

Até porque nem todas elas são novas, a começar por Nero.

Quer uma prova, por mais simples que seja?

Pois ontem começou o Campeonato Brasileiro da "nova gestão", tão nova como a "nova política".

A exemplo de todos os anos anteriores, desde 1971, sem nenhuma pompa ou circunstância.

Porque, definitivamente, não é da bola de couro que esta gente gosta. Nunca foi.

Boca Raton que o diga.


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