Folha de S. Paulo


Jogar ou não jogar

Ser ou não ser que nada! A questão é jogar ou não jogar, interferir ou participar.

A posição em impedimento de Robinho na vitória palmeirense suscitou polêmicas que exigem a presença de filólogos do porte de Antônio Houaiss ou Aurélio Buarque de Holanda e até mesmo de Platão e Sócrates, o filósofo, no caso, não o Doutor da democracia.

A novidade está numa orientação da Fifa de 2013 que, evidentemente, é interpretada ao sabor do freguês.

Gente burra como o colunista que você perde o tempo em ler não consegue ver a diferença entre participar e interferir, a nova pedra filosofal do futebol.

Sim, dizem os comentaristas de arbitragem que a Fifa estabeleceu que participar é uma coisa e interferir é outra. Antes, bastava participar em posição de impedimento para o lance ser paralisado. Agora, ele pode participar, desde que não interfira, entendeu?

Nem eu.

Robinho, segundo tais teorias, amplamente majoritárias no criativo mundo do futebol, participou do lance, mas não interferiu com seu brilhante corta-luz.

Ele não jogou, dizem, porque não tocou na bola e não impediu que algum adversário jogasse, embora tenha ficado óbvia a repentina hesitação de Victor Ferraz, do Santos, na dúvida entre ir nele ou no lateral alviverde Lucas que fez o cruzamento fatal.

O Tico e o Teco dos cérebros da arbitragem, embora geniais, são incapazes de perceber que não jogar pode ser uma maneira de jogar, porque, se percebessem, não seriam apenas o Tico e o Teco, teriam os neurônios necessários para impedir que fundissem as iluminadas cucas do apito.

Resumamos: o gol do Palmeiras foi belíssimo. E irregular.

Robinho pode não ter pretendido enganar nem seus rivais nem a arbitragem.

Mas participou, interferiu e foi fundamental para que o gol acontecesse.

O que não diminui a vitória do Palmeiras e não condena o assoprador de apito nem o levantador de bandeirinha, porque, como se viu, só a minoria defende a anulação do lance.

Tico, Teco, Tico, Teco, Tico...

DESEMPREGADOS

Cerca de 20 mil profissionais do futebol passarão o feriado do Dia dos Trabalhadores sem ter o que comemorar.

Ao contrário, desde que os campeonatos estaduais terminaram para os clubes pequenos, jogadores, técnicos, preparadores físicos, auxiliares técnicos, massagistas, roupeiros etc., olham para 2015 e sabem que só resta esperar pelo Réveillon porque o ano acabou para eles.

Mas as inúteis capitanias hereditárias, as federações estaduais, proclamam que, beneméritas, dão emprego a tanta gente.

Sabe esta coisa do marketing da benemerência do qual se aproveitam mais os promotores que os alvos da generosidade?

Sim, não é fenômeno exclusivo do futebol, mas também dele, assim como já foi dos bicheiros e atualmente é explorado pelos traficantes, assim como por uma porção de fundações, ONGs e assemelhados.

Daqui para frente, o de sempre.

Os pequenos entram em quarentena e os grandes não param.


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