Folha de S. Paulo


Os ressuscitados

PENSE NUMA constelação. Com astros de quase todas as partes do mundo, da Europa e da América em sua maioria, mas também da África. Alguns dos maiores salários do planeta.

O palco, impecável, o estádio de Stamford Bridge, em Londres, a cinco quilômetros do Palácio de Buckingham.

O milionário Chelsea do técnico português José Mourinho, recebia o não menos poderoso Paris Saint Germain, com quem empatara 1 a 1 no jogo de ida, na Cidade Luz.

O 0 a 0 levaria o time inglês às quartas de final da Liga dos Campeões da Europa e além de o treinador lusitano saber lidar como poucos nestas ocasiões, nem bem decorrida meia hora de jogo o artilheiro do PSG, o sueco Ibrahimovic, era expulso de campo, por um carrinho desajeitado no brasileiro Oscar.

Onze contra 10 e pelo empate, o Chelsea já pensava nas quartas de final. O mundo do futebol pensava igual.

O alerta veio dos pés do uruguaio Cavani que chutou na trave inglesa, no começo do segundo tempo.

O Chelsea controlava o jogo e acabou por abrir o placar com o inglês Cahill, ao faltarem apenas 10 minutos para a classificação.

Antes, o brasileiro do time francês, e da seleção, David Luiz, dera uma cotovelada no espanhol naturalizado Diego Costa e só não recebera o cartão vermelho porque ninguém viu.

Pois eis que ele mesmo, aos 40, subiu na área e deu um coice com a cabeça na bola para empatar e levar o jogo para a prorrogação.

O impossível acontecia no Reino Unido.

Mas, por pouco tempo. Porque no sexto minuto da prorrogação o belga Hazard recolocou os ingleses na frente, fruto de um pênalti estúpido de Thiago Silva, o outro zagueiro brasileiro que estrelou a capa da revista "france football" ao lado de David Luiz, logo depois do tsunami da Copa do Mundo, com ambos chamados de náufragos, os dois com a camisa amarela da CBF e agarrados em boias tricolores, azuis, brancas e vermelhas.

A dupla estava pronta para voltar acabada para Paris com o gol de David Luiz obscurecido pela cotovelada que, flagrada, deixaria seu time com nove e perdido, e com o acachapante lance de vôlei de Thiago. Mais que náufragos, afogados pelo destempero.

Mas o futebol que apedreja é o mesmo que afaga e quando a noite já ia alta na capital inglesa, Thiago Silva subiu e fulminou a meta britânica, numa cabeçada indefensável. Espantosamente defendida pelo belga Courtois, que mandou a escanteio e foi abraçado pelo companheiro marfinense Drogba.

Faltavam quatro minutos para acabar o tempo extra e lembremos que o PSG jogava quase 90 com 10 jogadores, na casa lotada do rival e contra o estrategista português Mourinho.

Havia escanteio no meio do caminho da rainha em cujo império, um dia, o sol jamais se punha.

Pois se pôs.

Porque na cobrança do córner, já que cabecear para o chão resultou num milagre, Thiago subiu nas alturas e virou, como o companheiro, herói do PSG.

Título do livro, ou do filme: Os Ressuscitados.


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